sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mamanguá e Cajaíba dentro e fora d'água

Fundo do Saco do Mamanguá visto do Pão de Açucar, a 575m

Um lugar fantástico é aquele que não se esgota nunca. Pra mim, esse lugar de facetas inacreditáveis se chama Paraty Mirim. Uma vila de pescadores (desprezada pelas autoridades) em plena Mata Atlântica, que me encanta mais e mais há 35 anos.

Dos últimos oito reveillons, passei cinco lá. E não é por falta de opção. Mesmo com chuva que interdita a estradinha de terra, com falta de água (que contraditório) e falta de luz, é meu paraíso particular. Se, quando menininha, meu mundo ia só até a beira do pier, agora na fase balzaca tratei de equipar o playground e expandir o horizonte.

'Brinquedos' a postos no pier. Mesmo com tempo feio!
E 2013 começou com pequenas "expedições" que deram um sabor especial aos primeiros dias do ano. Remada até a Praia do Cruzeiro e trilha para o pico do Morro do Pão de Açúcar, ambas no Mamanguá, remada até a Ilha do Algodão, remada até a Praia Grande da Cajaíba. E um SUP, de leve, até a Ilha da Cotia. O ponto de partida foi sempre o X do mapinha aí embaixo.


De fato, Paraty Mirim é o melhor local de partida para quem quer explorar a região. Há ônibus regulares da rodoviária de Paraty para lá (R$ 3,50) e taxis também costumam levar a turma da cidade (R$ 100,00). A estradinha sai da Rio-Santos, cerca de 7km depois de Paraty em direção a Ubatuba. São 7km de estrada de terra, normalmente em péssimas condições, que deixam na vila à beira da praia. A associação de moradores do local organiza estacionamentos para visitantes que costumam custar R$ 10 a R$ 15/dia. Há alguns bares e traillers de comida e bebida, que servem para abastecer antes da caminhada ou remada. Para dormir, se vc não tem a sorte de ter uma casinha lá como eu!, o negócio é camping mesmo.

Remada: Paraty Mirim-Praia do Cruzeiro


Foram cerca de 50min para ir, e outros 50min para voltar (mais ou menos 8km). Mesmo com vento e mar 'agitadinho' em alguns trechos, é uma remada agradável e sem perigos, como é de se esperar em águas abrigadas. Optamos por ir bem rente ao costão no trecho da Baía de Paraty Mirim e, ao entrar no Saco do Mamanguá, cruzamos direto em direção à Praia do Cruzeiro, na outra margem. A comunidade do Cruzeiro é bem "populosa", com diversos pescadores, canoeiros, crianças, senhoras. O Bar do Cruzeiro, ao pé do Pico do Pão de Açúcar, é parada obrigatória. Seu Mané pesca as cavalas, a filha Dani serve, no balcão, sempre com um sorriso tímido, e a mãe, dona Roseli, é responsável não apenas pelas delícias do fogão mas também por caipirinhas de cachaça Coqueiro da melhor qualidade. Combustível essencial para encarar a remadinha da volta! Não deixe de pedir a cavala grelhada! Detalhe: aceita reserva para o almoço no tel 24 9961-9107 / 9832-4312.

Remada: Paraty Mirim-Ilha do Algodão













Remadinha da melhor qualidade. A Ilha do Algodão fica a poucos quilômetros de Paraty Mirim, na altura de "12 horas" olhando da praia. Para dar a volta toda, deve levar cerca de uma hora e pouquinhos, passando por um mar batido (em certas ocasiões) na ponta da Ilha, num canal que passa entre o Algodão e a Ilha dos Cocos. Nós fomos e voltamos pelo mesmo caminho, já que uma chuva forte e ondulações deram uma ligeira desanimada para encarrar o perrengue.

Rodeando pelo lado esquerdo do Algodão há bons locais para se jogar do caique e mergulhar de snorkel. A vida marinha é abundante. Quase no final da extensão de terra há o famoso Restaurante do Hiltinho, um dos mais tradicionais de Paraty. Paramos para algumas caipirinhas (escolhemos a de cachaça caseira, forte e curtida) e petiscos. Não é exagero: foi o melhor polvo à vinagrete que já comi. As iscas de peixe com molho tártaro caseiro estavam à altura, assim como o aipim frito sequinho. Porções fartas, que seguraram bem a onda de oito pessoas. E pagamos não mais de R$ 50 por cabeça. Telefone do Hiltinho na Ilha do Algodão (tem tb no Centro Histórico de Paraty): 24 9276-5291 / 7835-7247. Funciona até 17:00 durante verão e feriados. Fora de temporada é bom ligar para saber se está aberto.

Remada: Paraty Mirim-Praia Grande da Cajaíba











Remada de gente grande. Não que seja algo de outro planeta, mas exige preparo físico e alguma técnica para surfar as ondas que aparecem e encarar as vagas da Ponta da Cajaíba, no canal formado com a Ilha Deserta. Demos azar de pegar vento e mar mexido o que, de certa forma, acabou minando a energia e a paciência para refazer o trecho de volta (pegamos carona - nós e os caiaques a reboque - no barco a motor que levava o restante da galera para o passeio). Foram quase 90min de remo. Uns 15km, eu diria. Lindo de morrer. Marzão, uns pescadores aqui e ali, aquele verde escorregando para dentro da água.

Não ia àquelas bandas há, pelo menos, uns dez anos. Não posso esconder a decepção de ver a insana especulação imobiliária, que salpicou mansões e placas de propriedade privada por toda parte. A Praia Grande da Cajaíba (com sua cachoeira acessível por uma trilha fácil no canto esquerdo) era o programa preferido meu e de meus irmãos com meu pai. Nossa grande aventura ao mar!

Pois o cantinho esquerdo da praia agora tem dois bares. O mais à esquerda atraiu mais (estava mais movimentado também). A cerveja gelada, os pastéis deliciosos (de arraia e de lula!, imperdíveis) e o PF de peixe frito com arroz e feijão fresquinhos dão alegria a qualquer barriga vazia. Os preços, porém, são salgados: R$ 7 a cerveja, o pastel e o côco verde !!!. O PF vale R$ 20. Vale mesmo.

Diana e eu optamos por ir de caiaque até o bar. Não pelo mar, mas esticando a remada pelo rio que rasga a areia, vindo da cachoeira. Deslumbrante.

Trilha: Pico do Pão de Açúcar (575m)












Há muitos anos tinha vontade de subir o famoso morro do Pão de Açúcar, no Saco do Mamanguá. Um imponente rochão a 575m do mar. Com amigos bem dispostos e um dia bonito, calçamos o tênis para a missão. Na mochila, muita água, biscoitos, doces. A trilha sai quase atrás do Bar do Cruzeiro. Bem marcada, com diversos troncos e raízes que servem de apoio tanto na subida, quanto na descida. O percurso é bastante íngreme. Bastante mesmo. Sem frescuras, dá para subir em 45min. Nós pipocamos: fomos parando, curtindo e falando, e acabamos em 1h20 (descida em meia hora). Com mata fechada, a trilha parece uma estufa. Suamos em bicas. Mas pelo menos as folhas protegiam do sol forte.

No fim da trilha há algumas pedras até chegar ao pico. Uma rápida escalaminhada e abre-se uma das vistas mais deslumbrantes que já contemplei. Revigorante. De uma paz sem fim.

Pausa de uma horinha para torradas com atum e a nova "invenção", torradas com "cassoulet". E vcs imaginam quem nos esperava depois da descida: dona Roseli e suas mágicas caipirinhas do Bar do Cruzeiro!

Relax com Morro do Pão de Açúcar ao fundo!

SUP: Costão de Paraty Mirim-Ilha da Cotia









Essa foi a remadinha que encerrou a temporada de 18 dias em Paraty Mirim. Não mais do que dois, dois quilômetros e meio, do costão onde fica minha casa até a simpaticíssima ilha da Cotia, bem na frente. Fui experimentar o SUP novo. A ilha tem uma trilha, bem no meio, que liga as faixas de areia dos dois lados. É lá que veleiros e outras embarcações pernoitam, já que as águas são abrigadíssimas. O problema é que, ao chegar lá, vi uma camisa do Flamengo pendurada numa árvore. Dei meia volta e voltei pra casa!

Ah, sim, e quando estiverem em Paraty Mirim, procurem pelo Fabrício, do Recanto das Ostras. Ele circula pela região com seu barco amarelo (entre Cotia e Mamanguá) vendendo ostras fresquíssimas (camarões e lulas sob encomenda). Deleite puro.