Estive na
babilônia russa da beleza e do caos pela primeira vez em 2009. Corri à beira do
rio, visitei (e me perdi) as deslumbrantes estações de metrô, estive no
fantástico Kremlin (com seu museu imperdível) e na linda Praça Vermelha. Jantei
no Café Purshkin, aristocrático e delicioso (fui na degustação e provei o
famoso estrogonofe). Tomei balão de taxista e perdi horas no impraticável
trânsito da cidade.
Dessa vez não
foi muito diferente: entre um compromisso de trabalho e outro, também fui à
Praça Vermelha, tomei balão de taxista, andei de Lada e engarrafei em ruas de
nome impronunciável. Dei minha corridinha (não no parque, mas na movimentada e
poluída Leninski Prospekt). E fiz dois dos programas que faltaram quatro anos
atrás. Uma visita ao Museu da Cosmonáutica e jantar no Varvary, de Anatoly Komm. Foi uma passagem relâmpago, mas intensa. Afinal, é preciso saber aproveitar as oportunidades sempre, né?
Estava tendendo
a reservar novamente uma mesa no Café Purshkin até que o Google me deu outra
sugestão fazendo as devidas ressalvas. Se o chef é o único russo a receber uma
estrela Michelin, ele cobra preços para czares e milionários donos de times de
futebol ingleses.
O restaurante
não está à vista na rua, mas a vizinhança salpicada por vitrines de Prada,
Versacce, Armani dá a pista do público do local. Varvary está em uma pequena
porta atrás de um bar. O responsável pelo estacionamento entendeu o meu russo
fluente e apontou para a cobertura do prédio.
No elevador,
três quadros mostravam um pouco mais de Komm: autor do melhor prato com trufas
em 2008, ícone da alta gastronomia russa em 2008, ambos conferidos por
instituições italianas, e a placa atestando que, em 2011, Varvary foi eleito um
dos 50 melhores restaurantes do mundo.
O ambiente
elegante não é assustador. O terraço com uma vista para os telhados e cúpulas
de Moscou com céu ainda claro mesmo às 21:00 acolhe com conforto e simpatia.
Enquanto tomava minha champagne rose, surge Yan, que se apresenta como
assistente de Komm que, “infelizmente, não está hoje na casa para recebe-la,
Manoela”.
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Visual da minha mesa no Varvary. |
Sozinha, não
quis investir no bem avaliado menu degustação (12 pratos a 195 euros) sem ter com
quem compartilhar as descobertas. Fiquei no “Menu Alta Cozinha Russa” com três
pratos à escolha: morelles recheadas com porcini e espuma de trufas, borsht com
foie gras, “Fish Golubtsy”, esse último indicação do garçom. Ainda pedi um
souflê de sobremesa mas poderia perfeitamente ter ficado sem ele, pois não foi
assiiiiim um grande final para a refeição espetacular (até pq não sou muito de doces).
Com a carta de
vinhos a preços altos e sem muita opção de meia garrafa, aceitei a sugestão da
louríssima sommeliére, salto alto e mini tubinho preto, e optei por taça de um
chardonnay espanhol. Reconhecidamente por ela “não é grandes coisas, mas para
acompanhar a comida está bom”. Estava mesmo.
Não tem essa
coisa ocidental de pãozinho e couvert. Chegou à mesa, imponente, um prato de
mini entradas surpresa. Todas tipicamente russas: pão preto com flor de sal
para molhar no óleo de girassol e na farinha de beterraba, canapé de geléia de
beterraba, enrolado de arenque com salada e molho rosa de beterraba, caldo de
alcachofra.
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Entrada. Arte! |
Sim, os russos
amam beterraba. E ainda bem que eu também.
A borsht que
provei a seguir já é um dos melhores pratos da minha vida. Com “sorvete” de
creme azedo, derretido pela sopa quente, e pedaços de foie gras. Sempre
acompanhado por um cálice de vodka, como manda a tradição. “Foi por esse prato
que entramos entre os 50 melhores do mundo”, contou depois o garçom. Se um dia eu voltasse ali, seria para comer
isso e nada mais.
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Borsht muito bem acompanhada. |
O prato
principal estava bom, mas não arrebatador. Uma espécie de “moqueca” local, com
bacalhau fresco enrolado por repolhos e salpicado por uma “neve de creme
fresco” (foto à esquerda. A outra é da morilles com funghi e trufas).
Para mim, viajar
para um país é se entregar à cultura, à arte e hábitos locais. Por isso sempre
corro pelas ruas das cidades que visito e busco experiências gastronômicas. Podem
ser baratas ou caras, não é esse o ponto. Depois do que vivi no Varvary, sei
que conheci um pouco mais da histórica Rússia. Com toques bem modernos e
sofisticados.
Ah, e o Museu da Cosmonáutica? Interessantíssimo. Mas se tivesse mais
explicações em inglês talvez eu tivesse gostado ainda mais. Tinha horas que não
dava nem pra identificar o nome do Iuri Gagarin.
Para fotos (não gastronômicas), mas maravilhosas de Moscou, link para o álbum da viagem de 2009, com direito a visita ao formidável Kremlin.
Comer: Café Purshkin (Ul. Tverskoy Boulevard, 26A / + 7 495 739 00 33). Varvary by Anatoly Komm (Strastnoy, 8A / + 7 495 229 28 00)
Ver: Museu da Cosmonáutica, Kremlin, Praça Vermelha, Estações de Metrô... Moscou vale a visita.