quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Moscou. Intensa.



Estive na babilônia russa da beleza e do caos pela primeira vez em 2009. Corri à beira do rio, visitei (e me perdi) as deslumbrantes estações de metrô, estive no fantástico Kremlin (com seu museu imperdível) e na linda Praça Vermelha. Jantei no Café Purshkin, aristocrático e delicioso (fui na degustação e provei o famoso estrogonofe). Tomei balão de taxista e perdi horas no impraticável trânsito da cidade.


Dessa vez não foi muito diferente: entre um compromisso de trabalho e outro, também fui à Praça Vermelha, tomei balão de taxista, andei de Lada e engarrafei em ruas de nome impronunciável. Dei minha corridinha (não no parque, mas na movimentada e poluída Leninski Prospekt). E fiz dois dos programas que faltaram quatro anos atrás. Uma visita ao Museu da Cosmonáutica e jantar no Varvary, de Anatoly Komm. Foi uma passagem relâmpago, mas intensa. Afinal, é preciso saber aproveitar as oportunidades sempre, né?


Estava tendendo a reservar novamente uma mesa no Café Purshkin até que o Google me deu outra sugestão fazendo as devidas ressalvas. Se o chef é o único russo a receber uma estrela Michelin, ele cobra preços para czares e milionários donos de times de futebol ingleses.

O restaurante não está à vista na rua, mas a vizinhança salpicada por vitrines de Prada, Versacce, Armani dá a pista do público do local. Varvary está em uma pequena porta atrás de um bar. O responsável pelo estacionamento entendeu o meu russo fluente e apontou para a cobertura do prédio.

No elevador, três quadros mostravam um pouco mais de Komm: autor do melhor prato com trufas em 2008, ícone da alta gastronomia russa em 2008, ambos conferidos por instituições italianas, e a placa atestando que, em 2011, Varvary foi eleito um dos 50 melhores restaurantes do mundo.

O ambiente elegante não é assustador. O terraço com uma vista para os telhados e cúpulas de Moscou com céu ainda claro mesmo às 21:00 acolhe com conforto e simpatia. Enquanto tomava minha champagne rose, surge Yan, que se apresenta como assistente de Komm que, “infelizmente, não está hoje na casa para recebe-la, Manoela”.

Visual da minha mesa no Varvary.
Sozinha, não quis investir no bem avaliado menu degustação (12 pratos a 195 euros) sem ter com quem compartilhar as descobertas. Fiquei no “Menu Alta Cozinha Russa” com três pratos à escolha: morelles recheadas com porcini e espuma de trufas, borsht com foie gras, “Fish Golubtsy”, esse último indicação do garçom. Ainda pedi um souflê de sobremesa mas poderia perfeitamente ter ficado sem ele, pois não foi assiiiiim um grande final para a refeição espetacular (até pq não sou muito de doces).

Com a carta de vinhos a preços altos e sem muita opção de meia garrafa, aceitei a sugestão da louríssima sommeliére, salto alto e mini tubinho preto, e optei por taça de um chardonnay espanhol. Reconhecidamente por ela “não é grandes coisas, mas para acompanhar a comida está bom”. Estava mesmo.

Não tem essa coisa ocidental de pãozinho e couvert. Chegou à mesa, imponente, um prato de mini entradas surpresa. Todas tipicamente russas: pão preto com flor de sal para molhar no óleo de girassol e na farinha de beterraba, canapé de geléia de beterraba, enrolado de arenque com salada e molho rosa de beterraba, caldo de alcachofra.

Entrada. Arte!
Sim, os russos amam beterraba. E ainda bem que eu também.

A borsht que provei a seguir já é um dos melhores pratos da minha vida. Com “sorvete” de creme azedo, derretido pela sopa quente, e pedaços de foie gras. Sempre acompanhado por um cálice de vodka, como manda a tradição. “Foi por esse prato que entramos entre os 50 melhores do mundo”, contou depois o garçom.  Se um dia eu voltasse ali, seria para comer isso e nada mais.

Borsht muito bem acompanhada.

O prato principal estava bom, mas não arrebatador. Uma espécie de “moqueca” local, com bacalhau fresco enrolado por repolhos e salpicado por uma “neve de creme fresco” (foto à esquerda. A outra é da morilles com funghi e trufas).


Para mim, viajar para um país é se entregar à cultura, à arte e hábitos locais. Por isso sempre corro pelas ruas das cidades que visito e busco experiências gastronômicas. Podem ser baratas ou caras, não é esse o ponto. Depois do que vivi no Varvary, sei que conheci um pouco mais da histórica Rússia. Com toques bem modernos e sofisticados.

Ah, e o Museu da Cosmonáutica? Interessantíssimo. Mas se tivesse mais explicações em inglês talvez eu tivesse gostado ainda mais. Tinha horas que não dava nem pra identificar o nome do Iuri Gagarin.


Para fotos (não gastronômicas), mas maravilhosas de Moscou, link para o álbum da viagem de 2009, com direito a visita ao formidável Kremlin.

Comer: Café Purshkin (Ul. Tverskoy Boulevard, 26A / + 7 495 739 00 33). Varvary by Anatoly Komm (Strastnoy, 8A / + 7 495 229 28 00)
Ver: Museu da Cosmonáutica, Kremlin, Praça Vermelha, Estações de Metrô... Moscou vale a visita.

3 comentários:

  1. VC já conhece bem a cozinha russa...

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  2. É verdade! Maravilhosamente bem... Potsdam!

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  3. Oi Manoela... Gostei muito do seu relato, bem gastronomico mesmo! rss... Em 1996 eu estive em MOSCOU em 1996 - Er uma época conturbada era a Perestroika e mesmo estando num grupo de 10 sendo 8 atletas, não tínhamos muito o que fazer o pais estava em forte crise, e violencia explicita na própria Praça Vermelha. Só para ter uma idéia engenheiros vendiam langeris nos cruzamentos, nossa interprete ficou muito feliz por receber 100US pela semana ... Lá faltava tudo... Ficamos por mais de uma semana com a equipe brasileira de ultramaratonistas. O pouco que pude curtir, visitar arredores, quase sempre correndo e conhecer Museu KOSMO e o Kremilim (bairro) inteiro valeu muito.. .gostei mesmo.. Muito foi do povo.. eles são sorridentes e muito cultos e ao mesmo tempo curiosos... Fiz amizade com um grupo de jovens de 18 a 22 anos que aprendiam portugues e fizemos assim muitas trocas culturais... inclusive cantaos Chico Buarque - era uma galera toda do Teatro. Foi legal conhecer o lugar e não ficar somente com a visão americanóide fez com que os sentimentos fossem mais fortes para com aquele povo. bjs e novamente. PARABÈNS pelo belo trabalho que vc faz... sou Fã! abçs

    Vicent Sobrinho

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