quinta-feira, 5 de maio de 2011

Pelos cânions do São Francisco



"Bora, Manuca, fazer a Maratona de canoagem do Brasil Wild?". "Demorô".

Esse foi o telefonema que recebi num belo dia de agosto, a pouco mais de um mês para a regata de 55km pelos cânions do Rio São Francisco, partindo de Paulo Afonso/BA, no dia 25/9 do ano passado - a Maratona de Canoagem Brasil Wild.

Estava sofrendo com uma nova lesão na perna depois de correr a Maratona do Rio, já de olho em ficar boa a tempo da Maratona de Atenas em outubro e o convite me pareceu uma ótima maneira de fazer o que eu amo - remar -, num lugar pouco conhecido e lindíssimo - os cânions do São Francisco -, com uma ótima companhia - Bruno Lago, meu super amigo de Brasília - e ainda me manter em forma sem forçar a perna. Partiu.

A logística foi bem mais simples do que a da Travessia do Araguaia. Alugamos um barco do Vit Vanicek, de SP, que chegou direto no nosso hotel em Paulo Afonso. Fomos de avião até Aracaju e, de lá, de ônibus até Paulo Afonso (viagem beeem "cata corno", mas faz parte da vida no sertão do Brasil, afinal).

Como o clima era curtir o rolé, tratamos de descobrir o "point" da cidadezinha e o melhor restaurante com vista pra água. Fomos parar numa praia da represa da hidrelétrica, com meia dúzia de botecos em sua extensão, mesas e cadeiras de plástico, umas poucas sombras de coqueiros, música de gosto duvidoso e gente mergulhando pra se refrescar do calorão. Perfeito, era isso o que queríamos.


Curtimos a brisa, umas cervejas bem geladas e uma carne de sol de primeira, que garantiu a energia necessária para o dia seguinte. Afinal, pelo que a água mostrava, o vento não seria brincadeira, não.

Esse feijãozinho no fundo estava uma coisa de louco...

A largada foi super cedo, partindo da hidrelétrica. O roteiro nos levava até a Ilha dos Estados (terra de ninguém entre Bahia, Sergipe e Alagoas) com vento forte contra e voltaríamos pelo mesmo caminho até um portinho num braço do rio à esquerda. Vê se dá pra entender pelo mapa.


Nem tinha taaaanta gente assim participando, mas clima de largada é sempre legal e dá aquele friozinho na barriga. Botar o barco na água, preparar os equipos, encontrar novos e velhos amigos, o desejo de poder chegar ao objetivo... bom demais.

Com Fernando Fernandes, de quem Bruno foi o primeiro parceiro na canoagem adaptada.
O bom e ter amigos fotógrafos é ganhar imagens surpresa como essa, botando a jamanta na água!
Seba todo crente que eu tinha virado casaca de vez. Tsc tsc
A prova foi uma das mais doídas da minha vida. O GPS mostrava uma velocidade desproporcional à força tremenda que a gente fazia, graças ao tufão que nos empurrava pra trás. O máximo que conseguimos na ida foi coisa de 6,5km/h. Andando vc vai mais rápido até a padaria. Mas foi uma curtição interagir com as outras duplas (poucos fizeram os 55km. A maioria percorreu apenas 8km, o outro percurso oferecido pela organização), mergulhar nas águas frescas do Velho Chico, apreciar a fauna, flora e os cânions tão imponentes que mudavam de cor com o sol. Rimos muito, apesar do braço, da mão e das costas pedirem clemência a cada instante. Fizemos alguns pitstops gastronômicos que salvaram nossas vidas!

Delícias estrategicamente posicionadas para momentos de emergência. 
Hummmm... "sucolé" de batata cozida com azeitona picada! Carboidrato e sal na veia!
Twix derretido praquela hora desesperadora que vc acha que não vai nunca mais chegar!

Mas vc chega. Ah, chega... E chega feliz depois de, sei lá, umas sete horas de perrengue? Nunca remei tanto na vida. Técnica zero (e senti falta, mais do que no Araguaia). Mas muita vontade, concentração e bom humor que foram premiados com o que? Com uma divina marmita gelada de arroz, feijão, peixe e salada! Sabor dos Deuses!
Dessa vez maltratei as pobrezinhas... 
O importante é o prazer que proporciona, né?
É fato que fiquei uma semana com braço doendo, estourei umas três veias por causa dos músculos hipertrofiados e resolvi entrar numa aula de canoagem (o que ainda não ocorreu...). Mas não é por isso que vou dizer o que vem aí embaixo...

Sendo bem sincera. Vale, claro, ir uma vez pra Maratona do BW. Tudo vale a pena pela experiência sempre. É um Brasil mágico, um rio de arrepiar com uma história emocionante, lembranças de Lampião e Maria Bonita e tal. Mas não sei se voltaria como vou voltar para o Araguaia (alô, mudou a data, é 9 e 10 de julho!). É caro (mais do que o Araguaia), mega cansativo (pelo vento contra por 30km quase), o percurso em ida e volta é sem sentido (inicialmente era de Paulo Afonso a Canindé mas mudaram não sei pq) e a infra não é tão boa como pregam (ficamos 2 horas esperando resgate do carro no local de chegada, briefing atrasou mais de hora tb).

No dia seguinte fui pra casa da Cami em Barra de São Miguel/AL. Pra relaxar os braços... #NOT : )




Comer: Pra essas provas de endurance vale, mais do que apenas gel de carboidratos, barras de proteína e cápsulas de sal, ter comidas sólidas para mastigar e repor as energias e ter algo realmente gostoso pra comer. Cada um tem seu gosto, vou dizer o meu. No caso da Maratona de Canoagem, como era uma prova "molhada", não fiz sanduíches e preferi o bom e velho saquinho com batata cozida com sal e azeitonas picadas. Levei tb amendoim e o sempre bem vindo Twix. Pra beber, muita água e Gatorade, que congelei no camel back e ele ficou geladinho o tempo (quase) todo. Se alguma vez na sua vida vc for a Paulo Afonso, vai nessa prainha que tem comida nordestina da melhor qualidade. Em Maceió, Cami me apresentou o melhor restaurante peruano do Brasil (estrela do Guia 4 Rodas), o Wanchaco. Ceviche, vinho branco, um prato com feijão picante... Surpreendente. Em Barra de São Miguel, uma prainha paradisíaca perto da capital alagoana, coma sem medo as ostras frescas vendidas por ambulantes e peça um drink (o meu foi de abacaxi com vodka, estava perfeito!) de um dos quiosques. Gran finale pra viagem.

Remar: A Maratona de Canoagem do Rio São Francisco aconteceu pelo segundo ano consecutivo (2009-10), mas não há certeza de haver novas edições. É uma regata para canoístas/atletas mais experientes, devido ao desgate físico extremo de fazer 55km com vento constante. E, convenhamos, não vale ir até lá pra remar só 8km, né? Sem dúvida a maneira mais bacana de conhecer o Velho Chico. Apesar de achar que vale uma ida na vida e não mais do que isso, recomendo a experiência para quem ama a natureza e a canoagem.

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