Me sinto uma traidora da causa. Remo é remo, canoagem é canoagem. E eu sou remadora, não canoísta. Ou era até conhecer a Diana e a Canuí, uma turma de Brasília que curte todas dentro de um caiaque. Antes mesmo de comprar meu Skiff depois de 14 anos de Lagoa Rodrigo de Freitas eu confesso que comprei um remo de caiaque. Quase procurei um analista.
Tem boto, arara, tartaruga. Tem uns playboys de lancha e som alto estilo Angra dos Reis, é verdade, mas tem muita paz e beleza. Tudo bem, achei que fosse passear no coração do Brasil, um turismo privilegiado. Mas meu parceiro, que consegue ser mais competitivo que eu, não deixou sequer eu respirar (meu braço ficou ardendo uns três dias...). Pegamos umas "esteiras" legais, ultrapassamos uma galerinha, fizemos (o Gui fez) uma leitura de rio sagaz que nos deu umas posições e... acabamos em segundo lugar nas duplas mistas!
Minha "conversão" para a canoagem (digamos que agora sou "bicombustível") foi ano passado. Coisa que nem meu amigo Sebastian Cuattrin, com quem já dividi um K2, conseguiu.
Mas não duvidem do poder de persuasão desses brasilienses. Em julho do ano passado, lá estava eu, remo em punho e caiaque no reboque, para experimentar a Travessia do Araguaia. Amigos, depois dessa, me converti de vez.
A Travessia do Araguaia é a mais antiga Maratona de Canoagem do Brasil. Existe há quase 20 anos, acho. Reúne, em um final de semana (normalmente o da lua cheia de julho), coisa de 150 canoístas do Brasil todo para dois dias de descida de rio. Em tese, você pode participar com qualquer coisa que flutue e se mova com um remo. Funciona assim: vc chega de madrugada, depois de um perrengue daqueles na estrada de Brasília ou Goiânia (os destinos mais "próximos") até Aruanã. De lá pega uma balsa (chamado de batelão) até o acampamento uns 7km rio acima. De noite, pé na areia e tralhas nas costas, vc procura um lugar para montar seu acampamento. E só vai ver o lugar lindo que está no dia seguinte, quando o sol nasce no horizonte.
Os ranchos goianos são uma tradição da região. Por toda a extensão do Rio Araguaia vc vê casinhas de palha e gente fazendo festa em volta.
A largada acontece sábado no meio da manhã. Os atletas vão de "voadeira" uns 35km adiante, onde rola um café da manhã oferecido pela organização numa casa no meio de lugar nenhum perto de uma ponte que liga dois pontos quaisquer do mapa.
Na voadeira. |
Pão e banana. |
Mas o mais legal é o clima. A galera trocando experiência, arrumando os barcos... Não vou entrar no mérito que meu parceiro de prova, Guilherme Pahl (o de verde na foto aí em cima), simplesmente esqueceu o leme do barco no acampamento e fez a travessia um pouco mais dolorida e emocionante.
A largada... ah, a largada. Esquece aquele negócio de muvuca, cotoveladas e outras formalidades. O Cafu, pai da prova, organiza uma grande roda, todo mundo cantando e quando dá na veneta ele buzina. Todo mundo sai correndo de onde tiver e vai pro barco. Próxima parada só na chegada, 35km abaixo no acampamento de onde partimos pela manha.
Tem boto, arara, tartaruga. Tem uns playboys de lancha e som alto estilo Angra dos Reis, é verdade, mas tem muita paz e beleza. Tudo bem, achei que fosse passear no coração do Brasil, um turismo privilegiado. Mas meu parceiro, que consegue ser mais competitivo que eu, não deixou sequer eu respirar (meu braço ficou ardendo uns três dias...). Pegamos umas "esteiras" legais, ultrapassamos uma galerinha, fizemos (o Gui fez) uma leitura de rio sagaz que nos deu umas posições e... acabamos em segundo lugar nas duplas mistas!
Dizem que o melhor da festa no Araguaia é de noite: fogueira, forró com os "locais" e vinho com os amigos. Sou um pouco devagar para "baladas", por mais "roots" que elas sejam. Mas curti um astral muito bom mesmo. Meu braço até parou de arder.
Diana, a culpada por tudo isso. |
No ano passado, especificamente, a classificação geral foi considerando só o trecho longo de 35km. Normalmente, soma-se o resultado de um dia com a prova de despedida no domingo, um tirinho de 7km até Aruanã. Por conta da maré, ficamos um pouco mais perto (5km) e para facilita as coisas, acabou sendo uma descida festiva apenas. Até colocamos o leme no barco, só pra constar.
Largada do segundo dia. |
É um baita trampo: muita estrada, muita "função", muito perrengue. Mas é também uma das experiências mais lindas que já vivi. Muito alto astral, muito saudável, muito feliz. Mesmo que vc tenha que arrumar e desarrumar o trailer de barcos seis vezes em 72 horas (a carreta quebrou na volta, só pra sacanear...), vale a pena.
Estão todos convidados para esse ano. Não precisa ser fera na canoagem (eu sou faixa branca), basta querer curtir. Vai ser no último final de semana de julho. Eu aviso.
E para quem quiser ler um relato mais jornalístico da Travessia do Araguaia 2010 clica aqui para baixar a reportagem que fiz para a falecida revista LANCE! A+ contando tudo e muito mais da prova.
Remar: Travessia do Araguaia, em Aruanã. Todo ano na lua cheia de julho. Tem diversas categorias de barco (turismo, K1, duplo oceânico, turismo, escola...). Esse ano deve rolar Stand Up Paddle tb. Quem quiser encarar de skiff tb pode. Não tem site oficial, mas fiquem ligados no site da CBC e no da Federação Goiana. Imperdível para quem é da água como eu.
Manu, que viagem sensacional!
ResponderExcluirDá até vontade de sair (mais) por aí!
Aliás, o blogue todo tá uma delícia!
Vai escrevendo, não para! Eu leio.
Beijos
Rosita
ahhhhh, não vou poder ir esse ano, ainda não acredito...
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