Esse negócio de viajar cansa mais do que vcs pensam. Mas não tem como negar que meu trabalho me leva a lugares incríveis. Em 2009 conheci um desses paraísos perdidos graças ao Ecomotion, a mais importante prova de corrida de aventura do mundo que a Media Guide divulga desde 2006 (e que terá a próxima edição de 7 a 17 de abril, na Bahia). Passei uma semana entre a Serra do Espinhaço e Serra do Cipó, em Minas. E logo a primeira noite chegamos à Lapinha, um pontinho no meio dos morros da Serra do Cipó. Mais ou menos como Visconde de Mauá deveria ser uns 30 anos atrás. No dia seguinte contornamos a morranca, chegamos no Tabuleiro e ficamos em êxtase diante de sua queda d’agua impressionante. Fiquei sabendo que existia uma travessia a pé entre os dois vilarejos. Garanto a vcs que não quero nunca mais saber de boa parte dos lugares que visito na correria do trabalho. Mas ali mesmo tive a certeza de que retornaria para encarar os 30km de caminhada.
Por uma dessas coincidências da vida, o Pedro tinha uma viagem de trabalho para BH bem na véspera do feriado de 15 de novembro no ano passado. Precisa dizer mais?
Liguei pra Sávia, a dona da Pousada Travessia, uma casinha linda na Lapinha. (Na verdade a preparação foi um pouco mais trabalhosa do que só ligar pra Sávia, tentei antes uma agência que insistia em me colocar num camping meia boca e vender um pacote nada a ver com a viagem que eu queria). Sávia estava a postos para nos receber e, de quebra, ainda indicou o Reginaldo, um guia da região para nos orientar na trilha.
Ir para a Serra do Cipó exige disposição. É perto mas é longe de BH. Deu pra entender? Em termos de distância nem é do outro lado do mundo mas estrada de terra, curvas, serra, trânsito... Aí quando vc chega na Lapinha destruido e encontra um caldo de ervilha caseiro esperando em cima do fogão à lenha... sentiu a emoção e a beleza do momento?
Acordamos cedo no sábado pra começar a caminhada. E Sávia também levantou cedinho pra coordenar um super café da manhã, com pão caseiro e tudo o que vc imaginar de delicioso de cafés da manhã na roça mineira.
Encontramos com Reginaldo, o filho dele Pedro, e os cavalinhos Registro e... sei lá, esqueci o nome do outro. A meta era encarar a parte mais dura da trilha pela Serra do Breu indo até a casa de Dona Ana Benta, local do primeiro pernoite. Muita pedra, muita subida... trilha bem mal marcada (sem conhecer bem a região, sem um bom mapa ou sem saber se orientar com bússola e GPS é roubada encarar sem guia o rolé). O tempo lindo no começo foi fechando, fechando, até que ficou tudo cinza e começou a cair água no céu, o que nos fez cancelar a subida ao Pico do Breu, ponto culminante daquelas bandas, que "atacaríamos" depois de deixar as coisas na Dona Ana Benta.
Dona Ana Benta é personagem folclórica da região. Mora sozinha num casebre no meio do nada. Tem dois quartos sempre prontos para receber os andarilhos, além de um quintalzão que é porto seguro para acampar. No fogão à lenha tem feijão, aipim, arroz... cada coisa gostosa que só. Agora tempera isso com a fome de quem estava caminhando sem parar numa montanha!
Mais do que nunca, com a neblina, é importante conhecer a área e/ou saber se orientar com mapa. Se não babau. A trilha simplesmente desaparece. Aliás, que trilha? Reginaldo tinha a manha e levou a gente direto pra casinha quente da Dona Maria, com seu Zé pilotando o fogão de onde saiu a melhor farofa com ovos caipiras de todos os tempos.
Eu assumidamente sou uma pangaré ladeira abaixo. Mas pra subir... seguuura! Demorei séculos pra me entender com os pedregulhos no caminho até o Tabuleiro. Fiquei tensa. Pedi a mão do Pedro. Pra piorar, ainda rolava uma bolha daquelas no calcanhar. Reginaldo achava que eu ia pipocar a qualquer momento daquela tenebrosa descida. Mas sobrevivi para ver a deslumbrante queda d'agua do Tabuleiro com seus 273m. A chuva, por um lado, impediu o canionismo até o poço logo antes da quedona. Mas, por outro, proporcionou um espetáculo inesquecível, com uma pressão de água de assustar.
Quase matei o Reginaldo no rolé de volta. Afinal, na subida eu me garanto! Estava com frio, com fome e, competitiva, queria chegar na frente de uns marmanjos que encontramos por lá (para tomar banho antes, já que eles estavam acampados na Dona Maria tb). Regi diz que batemos o recorde... não sei. Cansei. E a recompensa era o arrozcomfeijão do Seu Zé. Sim... esse é o segredo. Quem cozinha é o Seu Zé, mas quem leva a fama é a Dona Maria!
Outra dica: em temporadas com muito movimento, vale se organizar e reservar o pernoite tanto na Dona Ana, quanto na Dona Maria. Só há dois ou três quartos em cada casa. Ou seja, se não reservar, vai ter que acampar. E, convenhamos, acampar com chuva... carregar barraca na trilha... bem, não tenho idade pra isso! : )
Dormimos que nem anjos e saímos cedo na segunda para fechar a caminhada até o Tabuleiro. É um trecho também cheio de pedras mas nem chega a ser tão técnico. Pra variar, a trilha é "discreta". Se vacilar acaba em outro lugar... Fomos fazer o "Tabuleiro por baixo". Só que com o volume da água, o Parque Estadual impede os visitantes de se aproximarem do poço temendo tromba d'agua e outros perigos.
Chegamos ao Tabuleiro já sonhando com o almoço no Rupestre, o restaurante que conheci quando estive no Ecomotion. Pena que o Gil (o dono) esteja planejando em comprar um trailer e sair por aí com a Solange e o filho... Tudo bem, comprei uma cachacinha de ervas. Estão convidados a vir aqui em casa experimentar o gostinho do Tabuleiro!
Comer: Sopinha de ervilha da Sávia na Pousada Travessia, na Lapinha. Arroz com feijão, aipim e linguiça da Dona Ana Benta. Saldinha, farofa de ovo caipira, arroz com feijão do Seu Zé. E o banquete do Restaurante Rupestre: costela, carne de panela, pastel de forno... Levar café da manhã e "lariquinhas" para a trilha. Tirando a pousada Travessia, as duas outras não oferecem café, apenas almoço/jantar (uma refeição).
Beber: Vinho francês na Lapinha. Vinho grego comemorativo da Maratona de Atenas na casa da Dona Ana Benta. Água pelo caminho. Chazinho com capim do quintal do seu Zé. E aquela cerveja gelaaaaada no Rupestre. Com cachacinha local...
Correr: Travessia técnica e exigente de cerca de 30km. Trilhas mal marcadas (fui educada). Cerca de 10km caminhados por dia, com muitas pedras, subidas e descidas. Dois pernoites "clássicos" nas casas de Ana Benta e Dona Maria. Se quiser dormir na cama, tem que reservar. Se não, basta levar a barraca e armar no quintal. Custa R$ 25 a cama e R$ 15 o espaço no jardim com comida. Melhor pegar um guia se não conhecer a região ou se não souber se virar com mapas e bússolas. Reginaldo, nascido na região: 31 8431-9136. Custa R$ 100/dia em grupos de até seis pessoas. Leve mochila pequena.
Vou voltar com sol. Quem se habilita a acompanhar?
Lapinha, Ecomotion/Pro 2009 |
Liguei pra Sávia, a dona da Pousada Travessia, uma casinha linda na Lapinha. (Na verdade a preparação foi um pouco mais trabalhosa do que só ligar pra Sávia, tentei antes uma agência que insistia em me colocar num camping meia boca e vender um pacote nada a ver com a viagem que eu queria). Sávia estava a postos para nos receber e, de quebra, ainda indicou o Reginaldo, um guia da região para nos orientar na trilha.
Ir para a Serra do Cipó exige disposição. É perto mas é longe de BH. Deu pra entender? Em termos de distância nem é do outro lado do mundo mas estrada de terra, curvas, serra, trânsito... Aí quando vc chega na Lapinha destruido e encontra um caldo de ervilha caseiro esperando em cima do fogão à lenha... sentiu a emoção e a beleza do momento?
Acordamos cedo no sábado pra começar a caminhada. E Sávia também levantou cedinho pra coordenar um super café da manhã, com pão caseiro e tudo o que vc imaginar de delicioso de cafés da manhã na roça mineira.
Encontramos com Reginaldo, o filho dele Pedro, e os cavalinhos Registro e... sei lá, esqueci o nome do outro. A meta era encarar a parte mais dura da trilha pela Serra do Breu indo até a casa de Dona Ana Benta, local do primeiro pernoite. Muita pedra, muita subida... trilha bem mal marcada (sem conhecer bem a região, sem um bom mapa ou sem saber se orientar com bússola e GPS é roubada encarar sem guia o rolé). O tempo lindo no começo foi fechando, fechando, até que ficou tudo cinza e começou a cair água no céu, o que nos fez cancelar a subida ao Pico do Breu, ponto culminante daquelas bandas, que "atacaríamos" depois de deixar as coisas na Dona Ana Benta.
Chegando na casa de Dona Ana Benta. |
Quer um detalhe bem Brasil? Estava rolando Atlético x Flamengo e Cruzeiro x Corinthians. A rádio local transmitia cinco minutos de um, cinco de outro. Baita samba do crioulo doido. Mas o que importa é que o Mengão entrou pelo cano...
No outro dia, bem intencionados, acordamos cedo para chegar à casa da Dona Maria e do Seu Zé a tempo de deixar as tralhas, recarregar as baterias e fazer um bate volta na cachoeira do Tabuleiro pela parte de cima. Uma trilha forte, cheia de pedras e um bom desnível. Mas a chuva, novamente, tornava o programa ainda mais complicado. Uma pena que não conseguimos ter toda a incrível visão da região. Mas a vegetação do cerrado (super florida da primavera) e o clima "misterioso" proporcionado pelas nuvens valeram o ingresso.
Farofinha de ovo antes da caminhada friorenta |
Eu assumidamente sou uma pangaré ladeira abaixo. Mas pra subir... seguuura! Demorei séculos pra me entender com os pedregulhos no caminho até o Tabuleiro. Fiquei tensa. Pedi a mão do Pedro. Pra piorar, ainda rolava uma bolha daquelas no calcanhar. Reginaldo achava que eu ia pipocar a qualquer momento daquela tenebrosa descida. Mas sobrevivi para ver a deslumbrante queda d'agua do Tabuleiro com seus 273m. A chuva, por um lado, impediu o canionismo até o poço logo antes da quedona. Mas, por outro, proporcionou um espetáculo inesquecível, com uma pressão de água de assustar.
Quase matei o Reginaldo no rolé de volta. Afinal, na subida eu me garanto! Estava com frio, com fome e, competitiva, queria chegar na frente de uns marmanjos que encontramos por lá (para tomar banho antes, já que eles estavam acampados na Dona Maria tb). Regi diz que batemos o recorde... não sei. Cansei. E a recompensa era o arrozcomfeijão do Seu Zé. Sim... esse é o segredo. Quem cozinha é o Seu Zé, mas quem leva a fama é a Dona Maria!
Outra dica: em temporadas com muito movimento, vale se organizar e reservar o pernoite tanto na Dona Ana, quanto na Dona Maria. Só há dois ou três quartos em cada casa. Ou seja, se não reservar, vai ter que acampar. E, convenhamos, acampar com chuva... carregar barraca na trilha... bem, não tenho idade pra isso! : )
Seu Zé e Dona Maria |
Praça de Tabuleiro: equipe completa! |
Comer: Sopinha de ervilha da Sávia na Pousada Travessia, na Lapinha. Arroz com feijão, aipim e linguiça da Dona Ana Benta. Saldinha, farofa de ovo caipira, arroz com feijão do Seu Zé. E o banquete do Restaurante Rupestre: costela, carne de panela, pastel de forno... Levar café da manhã e "lariquinhas" para a trilha. Tirando a pousada Travessia, as duas outras não oferecem café, apenas almoço/jantar (uma refeição).
Beber: Vinho francês na Lapinha. Vinho grego comemorativo da Maratona de Atenas na casa da Dona Ana Benta. Água pelo caminho. Chazinho com capim do quintal do seu Zé. E aquela cerveja gelaaaaada no Rupestre. Com cachacinha local...
Correr: Travessia técnica e exigente de cerca de 30km. Trilhas mal marcadas (fui educada). Cerca de 10km caminhados por dia, com muitas pedras, subidas e descidas. Dois pernoites "clássicos" nas casas de Ana Benta e Dona Maria. Se quiser dormir na cama, tem que reservar. Se não, basta levar a barraca e armar no quintal. Custa R$ 25 a cama e R$ 15 o espaço no jardim com comida. Melhor pegar um guia se não conhecer a região ou se não souber se virar com mapas e bússolas. Reginaldo, nascido na região: 31 8431-9136. Custa R$ 100/dia em grupos de até seis pessoas. Leve mochila pequena.
Bão dimais da conta sô, matéria e fotos, apesar das chuvas que requer mais cuidado na caminhada e navegação.
ResponderExcluirMuito boa sua colocações e valorização da comunidade local, destacando o que cada um, de uma forma simples e especial possa ofecerer.
Só faltou uma coisa, sua vista e do Pedro aqui na Pousada Gameleira depois da ultima refeição para um café.
Foi bão dimais encontrar voce Pedro Reginaldo e filho no mirante do Tabuleiro no final da caminhada para poucos dedos de prosa.
Agradeço dimais sua divulgação do nosso destino, mostrando para os aventureiros como é maravilhoso o quintal da nossa casa.
Forte abraço e muitas aventuras.
Inté a próximas aventuras aqui no Tabuleiro.
Samuel
www.pousadadagameleira.com.br
Ótima matéria!! Quero fazer essa travessia ainda este ano! Não conhecia seu blog... parabéns!! Se precisar de companhia pra próxima, estou dentro!!
ResponderExcluirSoldier
www.soldieradventures.com
Samuel, sem dúvida o café e a prosa são dois ótimos motivos para voltar ao Cipó, essa terra encantadora. São as pessoas da Lapinha e do Tabuleiro, como vc, que fazem desse lugar ainda mais especial.
ResponderExcluirSoldier, obrigada! O blogue é novo, seja sempre bem vindo. Essa travessia é um espetáculo. Quem sabe não apareço!
Abs, Manoela
Boa noite!
ResponderExcluirSou sobrinha da Ana Benta e comunico-lhes que ela veio a falecer ontem. Sentimos muito por perdê-la.
Abs,
Marcela