segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Corrida "rústica" em Buenos Aires: 21km sem frescuras


Esqueça tudo o que vc ouviu falar sobre corrida de rua. Ou melhor, lembre-se apenas dos primórdios, uma época em que bastava calçar o tênis, largar e cruzar o pórtico alguns km adiante. Foi mais ou menos assim em Buenos Aires.

Ainda nem eram sete da manhã, estávamos no taxi com cara amassada, maçã na mão e um frio de rachar do lado de fora (coisa de 10-12 graus) e quebro o silêncio com um irremediável:

"Esqueci o Garmin no hotel".

Foi apenas mais um item da lista "chega de frescura", o lema que imperou nos 21km portenhos do último final de semana. Tirando o meu Asics que vem sendo amaciado para encarar a Maratona de Amsterdam daqui a 34 dias, o resto é o resto. Não me entreguei a qualquer tecnologia da era moderna. Tipo "joguei o manual do corredor no lixo". Conscientemente, pra desespero do Pedro que queria parciais a cada km e ameaçou um bico ao se dar conta de que teria que usar o cronômetro do iPhone como parâmetro se quisesse saber mais ou menos como a coisa ia pelas ruas de Buenos Aires.

Chegamos na barraca da Runners Club e pimba!: todo mundo com meias de compressão. É fato que quase comprei uma na Expo, mas não foi dessa vez ainda. Panturrilha de fora, tentei me confortar por não ter o equipamento lembrando do Marílson Gomes dos Santos falando que não via grandes vantagens em usar essa meia, não. Tá vendo, temos algo mais em comum Marílson e eu! (sim, pois temos tb em comum o fato de ele ter feito 1h01min na Meia e eu ter precisado do mesmo espaço de tempo para correr os 11km finais da prova, não é legal?!). Deu tb uma invejinha do casaco quentinho que o pessoal vestia. Casaco? Que nada! Não sabia se teria guarda-volume e não quis arriscar. Ainda bem que tenho aquela capinha de gordura protetora...
Friozinho antes da largada. Sem Garmin nem meia de compressão!
Sem meia de compressão, sem o Garmin e sem Gu ou Power Gel (meus preferidos) - só com um gel de R$ 1,50 preso na cintura (eram dois, mas o outro caiu durante a corrida), ouvi a largada da elite quando ainda esperava meu queniano de olhos azuis na fila do banheiro. Em fração de segundos soou a buzina da nossa. Alguém falou aquecer? Vixi...

A largada da Meia de Buenos Aires é um pouco caótica, isso é preciso dizer. Locutor confuso, carros estacionados nas laterais da pista estreita e em curva, gente se atropelando para não ficar engarrafado (estilo Niemeyer na largada da Meia da Yescom)... Penamos por 4km com um ritmo pouco acima dos 6min/km, o que já me deixou embodeada e pessimista quanto às perspectivas de conclusão da prova dentro do tempo que eu queria - abaixo de duas horas.
Largada: festa estranha com gente esquisita. No fim dá tudo certo.
Aí lembrei de todo o "esforço" dos dias anteriores: o menu degustação do Guido's Bar com vinho até altas horas de sexta; o ojo de bife com papas fritas e um ótimo Rivus Malbec no almoço de sábado no El Obrero (La Boca) depois de andar por horas pelas ruazinhas de Palermo; o passeio a pé entre Porto Madero e a Calle Florida no entardecer e o jantar no italiano La Baita às 23h, depois de uma hora na fila de espera, e sem direito a vinho porque afinal, íamos correr no dia seguinte! Tanto sacrifício tinha que vale a pena, afinal!
Ojo de Bife no El Obrero...
... e degustação no Guido's Bar. Esforço recompensado.
Passamos os 10k com conservadores e desanimadores 58min. Mas depois da bela hidratação com Malbec da véspera, me sentia incrivelmente forte e resolvemos acelerar. Comecei a fazer contas na minha cabeça cada vez que passávamos por um relógio do percurso. Vi que dava para beirar as 2h de prova se tivéssemos coragem. Fomos acelerando, acelerando e a 5km do final estava claro que seria possível tentar fazer alguns segundos abaixo das duas horas. E não estava disposta a me arrepender de não ter tentado nem a botar a culpa nas uvas de Mendoza. Os 11km finais foram valentes e cruzamos o pórtico em 1h59min42s. Bem decente.
"Faca nos dentes" para cruzar abaixo de 2h.
A verdade é que Meia Maratona de Buenos Aires é um barataço. Tirando a largada esquisita, tudo é legal: fiz inscrição online sem maiores burocracias, o percurso passa pelos principais pontos turísticos da cidade, bandas de música de estilos variados levantam o astral dos corredores a cada 4km mais ou menos (faltou um, acho eu, na altura do km 16, perto do Porto. Um momento crucial e que, no caso, passa por um lugar feio e com pouca gente), tem tapete de tempo a cada 5km,  a temperatura é ótima para correr, os postos de hidratação são bem distribuídos e água e isotônico vêm em copinhos, tem banana e laranja tb pra quem quiser (mas jogar a casca no chão é um atentado contra quem vem atrás!).  Ah, e os resultados estavam online domingo à noite já! A Expo de entrega de kits também é bem resolvidinha, com estandes vendendo de tudo o que o corredor gosta. No meu caso, não perdi 10min na fila pra retirar o chip descartável e a sacolinha cheia de papéis inúteis - e olha que fui no sábado tipo 14:00.
Kit na mão. Bora tomar vinho!
Casa Rosada ali perto do km 10. 
A camisa amarelo abacate com layout desengonçado é de gosto duvidoso? É. A medalha é pobrezinha? Sim. Mas "who cares"? É uma corrida "rústica", uai. No mais, a prova tem de tudo pro corredor mandar bem. Mesmo sem Garmin ou meia de compressão.

Depois, é só comemorar. Até ano que vem.


Correr: Meia Maratona de Buenos Aires, sempre no final de semana em torno do dia 10 de setembro. Esse ano, dos 13 mil inscritos, uns 2 mil eram brasileiros. Tem também prova de 10km, com largada na mesma hora e local. O percurso é bem plano (salvo um ou outro denivelzinho sem maiores traumas) e com as temperaturas baixas, a Meia de Buenos Aires é boa para tempos rápidos, dizem. Isso se vc não tomar Malbec e comer chorizo na véspera, como eu.

Comer: El Obrero (Augustin Caffarena 64 - com Caboto, La Boca / Tel. + 54 11 4362-9912); Guido's Bar (Rep de la Índia 2834, Palermo / Tel. + 54 11 4802-2391); La Baita (Thames 1603 - com Honduras, Palermo Viejo / Tel. + 54 11 4832-7234).

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