segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Segredo dos Faraós


Na minha mamadeira tinha hommus. A papinha vinha nos sabores quibe e tabule. Só nunca fui com a cara do Arak, a aguardente preferida de Tutankamon.

Não nasci em um sarcófago, mas é quase. Mamãe nasceu no Egito e nos fez achar os quitutes árabes algo tão trivial quanto o arroz com feijão nosso de cada dia. Os amigos de vida toda já sabem: almoço árabe da Tia Micheline é imperdível. Reuni, há alguns dias, essa turma com quem estou prestes a comemorar "Bodas de Pérola" (vai lá e dá um Google pra saber quanto tempo é) em torno dessas iguarias. E, pasmem, pela primeira vez em 34 anos participei de todo o processo de preparo da comilança.


Como toda cozinheira de mão cheia, as medidas da chef são "no olho", "a gosto", "no tato" e "vai sentindo". Ou seja, pra comer a comidinha da Mamãe, meu bem, só com a Mamãe. Vou tentar quebrar o galho dos interessados com essa cola aí embaixo.

TABULE












Ingredientes:
Cheiro verde (Cebolinha e Salsinha)
Hortelã
Tomate
Trigo para quibe
Vinagrete (azeite, sal, limão e pimenta a gosto)
E ai de quem inventar de botar alface e pepino, pelo amor de Nefertite!

Modo de fazer:
  • A primeira missão é lavar bem o trigo (medida no olho, tem a foto aí pra vc se inspirar). Lavar várias vezes mesmo. Vc vai ver que a água começa bem turva e vai clareando. Quando estiver clara, encha pela última vez e deixe descansando por 20 minutos. Enquanto isso, vá cuidando do resto.
  • A proporção é mais salsinha do que cebolinha. E mais cebolinha do que hortelã. Se vira!
  • Normalmente o verde (folhas) e o vermelho (tomate) são equilibrados como na camisa do Fluminense. Mas há quem goste mais de verde, outros mais de vermelho. Se vc for daltônico peça ajuda.
  • Lave bem todas as folhas e tire do caule. Corte em micropedaços.
  • Volte ao trigo. É hora de seca-lo. Peque um punhado que caiba bem na palma da sua mão e esprema para sair a água, colocando em seguida em outro recipiente. Repita, repita, repita. Até ter uma tendinite por LER.
  • Misture tudo em uma saladeira e tempere com o vinagrete que vc já fez.


SALADA DE PEPINO COM HORTELÃ



Ingredientes:
Pepino
Iogurte natural
Hortelã
Alho
Sal



Modo de fazer:
  • Lave bem o pepino e as hortelã. A proporção entre pepino e iogurte é 1/1. O alho vc deve ajustar pelo paladar. 
  • Corte o pepino ao meio e depois ao meio novamente. Daí corte em rodelas. Deixe os cubinhos, já temperados com sal, em um escorredor de macarrão para que ele sore.
  • Enquanto isso vá cuidando dos outros pratos do cardápio.
  • Lá pelas tantas, despeje em um potinho de iogurte (se vc estiver fazendo com um só, use metade nesse momento) e os temperos para dar o gosto a tudo.
  • Adicione o pepino, a hortelã picadinha (que vc que é esperto pegou do montinho que usou quando fez o tabule), e o restante do iogurte. Prove para ajustar o alho.
Pepinos sorando.
QUIBE E QUIBE CRU
Ingredientes:
Carne moída
Hortelã
Trigo para quibe (proporção 2/1 com a carne. Mais carne, claro)
Cebola
Sal
Pimenta
Azeite ou óleo
Manteiga
Vinagre

Modo de fazer:

  • O ideal é preparar de véspera, guardar na geladeira e assar antes de servir.
  • Lave o trigo do mesmo jeito explicado na receita do tabule. Nesse caso, pode deixar entre 20-40min descansando (no tabule é no máximo 20, atenção!).
  • Enquanto o trigo está curtindo, prepare o recheio. Em uma frigideira, coloque azeite, manteiga ou óleo e a cebola. Junte a carne moída do recheio que, em geral, usa um quarto da quantidade total da receita. Jogue uma colherzinha de vinagre (eu acho que não adianta nada, mas...) para garantir a carne bem soltinha. E vá amassando os caroços de carne com um garfo (isso sim adianta!). Quando estiver douradinho e bem soltinho desligue o fogo e deixe esfriar.
  • Corte a cebola em pedaços médios (que seu mixer suporta) e triture junto com a hortelã. Com tudo bem batidinho, misture bem à carne moída que sobrou. (Mamãe tem uma máquina de moer carne e coloca tudo lá para 'remoer' a carne com os temperos).
  • A essa altura já é hora de tirar o trigo da água e secar.
Trigo secando.











  • Misture a massa de carne ao trigo por várias vezes, como se fosse massa de pão, revirando bastante.
  • Se for servir quibe cru, é hora de reservar um pouco para guardar na geladeira e servir no dia seguinte, decorado com ramos de hortelã.
  • Pegue bolotas dessa carne e faça pedaços "planos" levando uma mão contra a outra. A ideia é cobrir todo o fundo da assadeira com a carne. Evidentemente que vc usou os neurônios e untou a assadeira, correto?
  • Cubra a carne crua com a carne refogada do recheio de maneira uniforme.











  • Com a carne crua que, espero, deve ter sobrado (se não sobrou vc fez tudo errado!), faça outra camada de carne "plana" para cobrir a carne refogada. Tampe todo e qualquer buraco e cantinhos. Não é para ver sequer a cor da carne moída embaixo, hein! 
  • Uma vez tudo tampado, dê uns bons tabefes de mão aberta no quibe. Sempre com a mão úmida pra carne não grudar e vc estragar tudo. Terapia total! Espanque a carne com vontade. Pode gritar! Mas cuidado para não assustar os vizinhos!
  • Derreta (pode ser no microondas) a manteiga.
  • Com a "tampa" lisinha, é hora de fazer riscos com a ponta da faca. Forme quadrados. No canto de alguns quadrados, faça furinhos superficiais com o dedo mindinho. É para escorrer a manteiga pra dentro, já que o passo seguinte é despejar a manteiga derretida em cima de toda a superfície do quibe. A-ha!! Isso dá o toque douradinho do assado.
  • A proporção que fizemos para 20 pessoas foi 1,5kg de carne / 700g de trigo / 1 cebola para o recheio / 3 cebolas para a massa / 1 maço de hortelã.
Tampando todos os cantinhos.
Quadrados e furinhos.
 ARROZ COM CABELO DE ANJO
Ingredientes:
Arroz
Cabelo de anjo (ou cappelini)
Sal
Pimenta
Óleo

Modo de fazer:
  • Vamos lá: quebre em micro pedaços o cabelo de anjo. O Jamie Oliver põe os fios dentro de um pano de prato e sai dando pancada com ele na bancada da pia. Funciona pq eu vi na TV. Minha mãe diz que o bonitão inglês aprendeu com ela...
  • Em uma panela, refogue esses pedacinhos da massa com sal e manteiga. (Revisto após comentário da Chef aí embaixo).
  • O jump of the cat é deixar a massinha ficar escura para, então, acrescentar o arroz.
  • A partir daí, pergunta pra mamãe-vovó-titia como é que faz arroz pq isso aqui não é blogue pra crianças.
Olha o macarrãozinho dourando!













HOMMUS (PASTA DE GRÃO DE BICO)


Ingredientes:
Grão de bico
Tajine
Alho
Sal
Limão

Modo de fazer:
  • Deixe o grão de bico de molho de véspera (quando vc fizer o quibe, por exemplo, já ponha as bolinhas na água e guarde na geladeira.
  • No dia seguinte, cozinhe o grão de bico (eu tenho pa-vor a panela de pressão). Em panela convencional leva uns 40min. Na pressão a metade do tempo. 
  • Quando estiver em uma consistência que não vai quebrar o seu liquidificador, coloque 2/3 dos grãos para bater com a tajine e os temperos. Esprema o limão também dentro da jarra antes de bater.
  • Os caroços restantes vc deve amassar com um garfo meio que grosseiramente, para que restem pedaços grandes. Isso vai dar um tchan na sua receita!
  • Fique ligado que rende pra caramba. Fizemos 500g + 1 latinha pequena de tajine pras 20 cabeças que foram ao almoço.
  • Sirva com pão árabe fresco (os da birosca em frente à Casa Pedro, no Saara, e o do Harad, na Cobal do Humaitá, são os melhores).
Obrigada, amigos queridos!

Não ousem fazer nada do que está escrito aí em cima antes de ver um comentário da Egípcia por aqui. Vai que eu entendi tudo ao contrário!

domingo, 27 de novembro de 2011

Jóias da Coroa Britânica: Brighton com endorfina e (boa) gastronomia


Meu irmão mora em Brighton, cidadezinha às margens do Canal da Mancha, bem ao sul de Londres. Uma horinha de trem separam Victoria Station de um dos lugares mais simpáticos que já visitei no Reino Unido. Demorei para visitar, é verdade. Aos 48 do segundo tempo apenas, no timing certo para ajudar Cae a empacotar suas camisas do Fluminense rumo à Croácia.
Brighton.
Foi um intensivão bem do jeito que eu gosto: com bastante cerveja, ótima comida, e muito esporte. Sempre com Cae e dona Mamãe.

A começar pelo charmoso Bed & Breakfast que reservamos (Paskins, quase à beira mar e super engajado em causas ambientais e comida orgânica mesmo quando serve um full English Breakfast), Brighton foi curtição do primeiro ao último segundo.
A única bola (relativamente) fora foi o Brighton Pier, nossa primeira parada enquanto esperávamos Cae se liberar dos trabalhos na Universidade de Sussex. Turisticão. Um parque de diversões (com direito a roda gigante e tudo) e um péssimo Fish and Chips. "Não acredito que vcs não foram no Harry Ramsdens!", exclamou o  irmão, apontando pra lojona BEM EM FRENTE ao famigerado pier e famosa por servir uma das melhores versões do prato-assinatura da cozinha inglesa. Vivendo e aprendendo... De todo modo, turista é turista. Então não deixe de botar seus pés no Brighton Pier, tá legal?

Mas a noite foi em grandecíssimo estilo: Riddle & Finns, um transado Oyster and Champagne Bar com mesões altos a serem compartilhados. Pedimos uma seleção de ostras com ótimos molhos (gengibre, cebolinha, soja e wasabi - o melhor!; tomate, cebola roxa, chilli e coentro; champagne) regado ao espumante local Court Garden, grata surpresa. De principal fui de haddock com presunto de parma crocante e ovo pochê, combinação que me chamou a atenção de primeira e confirmou a boa suspeita já na garfada de abertura dos trabalhos. : )
Ávida por adrenalina e querendo respirar a vida outdoor de Sussex (saibam que é um parque de diversões pra quem curte trilha, MTB e canoagem), achei na internet a agência So Sussex, do boa praça Nigel Greenwood e sua mulher, a sueca Marie, e o canoísta Ollie, que morou anos e anos na Amazônia guiando expedições de caiaque por lá.
Não fizemos nada de radical, é bem verdade. Mas foi especial. Começamos o dia ensolarado (yes, faz sol na Inglaterra tb!) com um rolé pelo rio Ouse, passando por cidadezinhas históricas como Lewes e Barcombe. Essa região, embora com pequenos vilarejos apenas, teve uma importância política grande em épocas medievais.

A remada é daquelas "que até mamãe faria". E fez. Cobrimos uma pequena distância num rio sem corredeiras, corrente ou vento contra, e com direito a pausa para tomar chá e comer um bolo que vinha nos enfeitiçando com o cheirinho maravilhoso desde que entramos no carro do Nigel. Foi a Marie que fez.

Tentamos "ousar" um pouco mais e, atendendo aos meus pedidos, em vez de fazer uma ida-volta de 3km, fomos em linha reta em direção a Lewes. Mas o rio, realmente, era raso e paramos perto de uma fazenda. Pulamos a cerca (teve isso!) e encontramos Nigel nos esperando magicamente com seu possante. 
E olha que ainda deu para visitar a igrejinha de pedra local, cheia de história da época da peste.

O almoço foi outra linda surpresa. Em um pub totalmente no meio do nada - o Trevor and Arms -, depois de passarmos por uma estradinha arborizada que passa por lugares pitorescos, como a Opera House de Glyndebourne (luxo só! no verão, as pessoas fazem piqueniques com champagne, caviar e terno e gravata nos jardins da mansão!). No T & A, mamãe foi de cordeiro, eu fui de hamburguer. Ambos muito bem feitos. Para acompanhar, local beer, of course: a Harveys.
Calma que não acabou! Na onda "supere seus medos", fui com Nigel para o segundo tempo: um MTB de cerca de 20km pelas montanhas South Downs. Single track, down hill, up hill puxadinho pra queimar batatas fritas e onion rings e o comentário com a elegância inglesa: "Manoela, my God, you are one of the stronggest womans I've seen up hill. How come you are so slow going down?!", espantou-se Nigel, em uma observação que Alexandre Cappi, André Piva e Felipe Meireles, meus companheiros da equipe de aventura X-Press teriam orgulho de assinar. Pedalaaaa, Manu!
Downhill como eu gosto: suave e com graminha pra amortecer!
Sobe, sobe, sobe... com cascalho. 
Foi um pedal genial para iniciantes como eu sentirem todos os sabores do MTB. O visual lá da crista do morro foi show. E observem o estádio construído pela American Express em apenas um ano para o time local (na terceira divisão da Liga Inglesa, by the way).
Lembrem-se que o dia tem 24h. E só acaba quando termina. Nesse mesmo movimento de rotação da Terra, ainda deu para tomar um chocolate quente na lojinha do Jamie Olivier e experimentar a melhor e mais exclusiva iguaria de Brighton: o churrasco do Cae! Mas os dotes com os espetos do irmãozinho vão, um dia, merecer um post especial. Vcs não perdem por esperar.

Comer: Riddle & Finns, Recipease/Jamie Oliver (tem aulas-degustação diariamente), Trevor & Arms. Vejam links e comentários no texto.

Remar: So Sussex (link no texto) - passeios sob encomenda, adaptados ao gosto e nível técnico do freguês. Indiduais, em grupos ou em família, sempre com o toque caseiro de Marie e o bom papo e ótimo conhecimento da região do eclético Nigel. Quem guia os barcos é o experiente Ollie.

Pedalar (edição especial!): As South Downs merecem ser exploradas. Trilhas de extensões e dificuldades diversas. Cada visual que vou te contar. Nigel sabe como poucos apresentar os brinquedos de seu playground. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O ouro escondido (ou nem tanto assim) da olímpica Londres

Elisa, eu e Cae no Butterfly Experience do London Zoo. Mágico.
A capital olímpica de 2012, Londres, merece a medalha de ouro. E isso minha irmã fala há tempos, só eu que ainda relutava mesmo tendo passado seis meses por lá no ano 2000 (ah, a (falta de) maturidade...). Elisa sempre quis morar lá, chegava até a ser chata a insistência. Realizou o sonho esse ano. Está fazendo um mestrado em Westminster e me recebeu duas vezes esse ano em sua casinha bacana em Camden. Uma teve pouco mais de 24h e, embora breve, foi gostosa pq dona mamãe estava junto. Na segunda, tipo 20 dias mais tarde, foi realmente especial. Éramos ela, eu e Caetano, o irmão do meio. Parecíamos os mesmos três que bagunçavam juntos quando lá atrás, quando o mundo tinha uns 6 milhões de habitantes ainda.

Mas precisou o meu médico pedir umas dicas de Londres, para onde ele vai semana que vem, para eu tomar jeito e escrever aqui tudo o que eu estou há tempos querendo compartilhar com vcs. Londres é especial, vai além da trilogia Buckingham Palace-Trafalgar Square-Madame Tussaud e, diga-se de passagem, come-se muito bem.

Obrigada, Elisa, por mostrar esse encanto de cidade. E obrigada, Cae, pela sensibilidade de clicar a beleza de nosso passeio no London Zoo e Camden Lock. Sim, London Zoo. Enjoy!


York & Albany
É o novo restaurante do chef e restaurateur Gordon Ramsay, estrela maior da “nova culinária inglesa”. Dentre as diversas casas em Londres – o “restaurante assinatura” dele fica dentro do hotel Claridge’s -, Ramsay abriu o simpático York & Albany numa mansão eduardiana lindíssima próximo ao Regent’s Park e Camden Town. No segundo piso funciona um pequeno hotel e, embaixo, um bar e o restaurante. O bar tem drinks ótimos. Quando o salão está cheio, pode-se comer ali tb (mesma cozinha). Eu até gostei mais de ficar no espaço do bar, muito bonito e beeem menos barulhento do que o salão.

De todo modo, todas as casas de Ramsay têm um interessante lunch menu  - sempre três pratos por cerca de 30 libras. Vale checar no site os horários desse serviço. Aos domingos (esse nunca provei) muitas das casas dele servem um sunday roast. Vai ser minha próxima investida.

London Zoo
Sim, zebras podem ter listras brancas.
Coloco aqui uma dica “naif” do London Zoo simplesmente pq achei o máximo. Fica bem perto do York and Albany. Em outubro último foi a primeira vez que estive em um zoológico depois de 20 anos, se não me falha a memória. O London Zoo é uma instituição de pesquisa do mundo animal. Foram eles que identificaram algumas espécies e/ou trabalham pela preservação de tantas outras. Normalmente fico deprimida em zoológicos pq os bichinhos são sujos, magros e tristes. Lá é diferente. Até as listras da zebra são brancas! A estufa de criação de borboletas é de uma sensibilidade ímpar (elas são livres e nós, visitantes, passamos por dentro de seu habitat. Lindo, lindo). 

Imperdível tb a Rain Forest (outra com os bichinhos quase livres, passando por onde estamos), os gorilas e o parque dos pingüins (e olha que estive na Patagônia em janeiro e voltei enjoada com o cheiro deles. Pingüim londrino não cheira mal, não).
Eu tinha pa-vor de girafa quando era pequena!
Só atenção pq no inverno alguns dos bichos (como gorilas, zebras, girafas, leões) podem estar na jaula interna.

Camden Lock
Vista de Camden Lock pelos olhos do Cae.
Amy Winehouse morava em Camden Town. Isso já diz bastente sobre o lugar. Minha irmã, que está longe de ser careta, se considera uma “freira” em sua casinha na Kentish Town Rd, a poucos metros do burburinho da Camden Street e de Camden Lock.

A “eclusa de Camden” é um barataço. Tem um mercado de quinquilharia e comidas. Foi revitalizada. Passeando ao longo dela (em direção ao Jardim Zoológico) vc se sente em Amsterdam – tem diversos house boats e casas com quintais que dão para a água.
Quando fiz com Cae e Elisa, emendamos Zoo e Camden Lock, com direito a um almoço no pub de lá, que era bem decente.

Orangerie do Kensigton Palace
O Kensigton Palace sempre tem umas exposições que mulheres adoram. Em 2006 vi uma sobre os vestidos de casamento de toda a família real desde a Rainha Victoria!

A Orangerie do Kensigton Palace é perfeita para um chá das cinco. E essa foi minha amiga Renata quem sugeriu com todo glamour que Deus lhe deu. Mini sanduíches, bolinhos... Não sei ao certo qual a entrada do parque, mas fica bem perto do lago. Passear pela Kensigton High Street (diversas lojas maravilhosas. A Harrods é por ali tb) e emendar no chazinho pode ser simpático!

Jamie Italian
O Jamie Olivier – outro chef que anda revolucionando a desacreditada culinária britânica – tem alguns empreendimentos na cidade. Tudo bem que ele não faz “cozinha inglesa” e sim italiana. Mas... Who cares? Entre o Fifteen e o Jamie Italian (fui no de Covent Garden), fico com o segundo. Um ambiente super descontraído, atendimento jovial e sorridente, comida de primeiríssima e uma carta de vinhos honesta. Algumas, digamos, variações sobre o tema italiano. O brownie é sobremesa imperdível para chocólatras.
Fica super cheio, mas um almoço mais tarde (14:00?) já garante pouca ou nenhuma espera. Inglês come cedo.

National Portrait Gallery
Fica bem perto do Jamie Italian. A NPG tem diversas exposições temporárias interessantes e o acervo permanente de retratos (pinturas e fotos) de diversos períodos da monarquia e personalidades inglesas é muito bom. Gratuito, aliás.

West End – Musicais
Não sei o quanto vcs gostam de Beatles (mas acredito que saibam que eu gosto e muito!). Estreou agora o musical Backbeat no Duke of York’s. É uma montagem em cima do filme com o mesmo nome e fala do início da carreira dos Beatles quando eles ainda eram estudantes em Liverpool e uma bandinha qualquer na Reppabahn em Hamburgo. Achei nota 10. Mas não espere ouvir Yesterday, Hey Jude essas coisas pq elas não existiam, claro, nesses primórdios dos Fab Four. Eles tocavam cover de rock’n’roll. E da melhor qualidade. Só hit! Um baile. Com direito a Love me Do e platéia em pé dançando no final.

Pena que o meu favorito, Ringo Starr, ainda não estava na banda... Mas o cara que faz John Lennon é excelente. Agora... ouvidos atentos pq os diálogos com sotaque nortista são um teste de inglês mais difícil do que o IELTS (exame no qual fui a maior nota da família, by the way, para trauma da minha "British sister", hahaha). Vale comprar na internet e usei esse site aqui

Borough Market
Borough Market é o grande mercado de rua de Londres. Fica embaixo da London Bridge, lindíssima, com ferro aparente. Nesse mercadão os principais chefs (incluindo aí nossos “amigos” Ramsay e Oliver) fazem compras. São produtores rurais como o cidadão que vende um queijo Comté de chorar. Ou o indiano que vende um chá Darjeling sensacional (com diversas “graduações” de sabor).

Há muitas barracas onde se pode comer – e bem – no mercado. Na maioria, pode-se experimentar os produtos. Ou comprar, claro, para levar para casa.

Alô, alô - tem uma barraca de cogumelos surreal (eu sou louca por cogumelos, apesar de ter medo de cogumelo grande! rs). Lá a senhorinha vende um azeite de trufas brancas (MESMO, saborosíssimo) a seis libras a garrafinha ou um potinho de mel com trufas brancas (tb divino) que custa 8 libras, se não me engano.

Quanto mais cedo for, mais barracas e produtos estarão abertos e à disposição. Mas tb, como é de se prever, mais cheio vai estar tudo. Fecha antes das 17:00.

George Inn
É o pub mais antigo de Londres (um mapa de 1500 e pouco já mostrava a existência dele!). O prédio novo (novo quer dizer do século XVII) foi construído depois de um incêndio e era freqüentado por Charles Dickens, que cita o George Inn até em alguns livros, segundo consta. Fica a dois passos do Borough Market e serve uma ótima comida e várias marcas de cerveja. É conservado pelo National Trust.

Fortnum & Mason
É a delicatessen da Rainha. Fortnum & Mason é “Royal appointed”. Um prédio enorme de quatro andares com tudo o que vc pode imaginar de gostosuras culinárias. Logo no andar de entrada estão os bolos e cupcakes. Ai, ai...

No subsolo é que tem frios, vinhos, massas, mostardas (tem uma “Royal Appointed” tb, claro).

Nesse subsolo, entre as gôndolas com guloseimas, há um restaurante (que eu não fui) e do lado de fora do restaurante tem três ou quatro mesinhas. Ali vc senta, pede um vinho (fui de espumante rosé), uma seleção de queijos (que vc elege de um carrinho com dezenas de opções de alucinar) e deixa o tempo passar. No cardápio vi outras opções para acompanhar o vinho, mas fui de queijo. E fiquei com o maior olho grande na pata de jamón ibérico que o maitre francês ensinava à atendente novata como cortar ali do meu lado. O maitre, por sinal, virou para mim e disse: “Brazilian? You are not too loud to be Brazilian”. Tomei isso como um elogio. Rs


Royal Academy of Arts
Reprodução da internet.
Fica exatamente na frente da Fortnum & Mason. Até meados de dezembro a RAA está com uma exposição simplesmente imperdível: as bailarinas do Degas. Poucas vezes vi uma exposição tão bem curada e apresentada. Todos os quadros clássicos do Degas com as bailarinas, o estudo do movimento, a correlação com outros artistas... Um deleite e uma aula.


Comer: York & Albany/Gordon Ramsay, Jamie Italian/Jamie Oliver, Borough Market, Fortnum & Mason, George Inn. Vai lá em cima que tem os sites! 

sábado, 5 de novembro de 2011

Saudades do que ainda não vi

"La cocina es un lenguaje mediante el cual se puede expresar armonía, creatividade, felicidad, belleza, poesía, complejidad, magia, humor, provocación, cultura"



Estou um pouco atrasada com o blogue mas não podia deixar de falar do filme “elBulli – Cooking in Progress”, o primeiro e único filme do Festival do Rio que assisti em muitos e muitos anos. É aquilo: já que sei que vou morrer sem jamais ter visitado a casinha na Costa Brava, a duas horas de Barcelona, pq não degustar a arte de Ferran Adrià nas telas, né?

O documentário é impressionante. Parece que a câmera está colada no peito de Adrià e de seus fiéis escudeiros, os chefes executivos Eduard Xatruch e Oriol Castro.

Ainda não consegui definir se Adrià é um maestro, um alquimista, um artista ou um grande administrador. Ou um Frankstein que une, com equilíbrio e doses de genialidade (e a falta de paciência inerente dos gênios), as três características.

Da pesquisa de ingredientes durante seis meses em seu laboratório em Barcelona, passando pela elaboração dos pratos, o apuro visual, o ajuste dos sabores e apresentação... tudo é mostrado com uma fidelidade que te leva para dentro da cozinha do elBulli. Dá para sentir a tensão, a perfeição e o prazer da missão cumprida. Pena que não dá para sentir nem o gosto, nem o cheiro.

E nunca sentirei. Afinal, o elBulli fechou. Vai virar uma grande academia de gastronomia. Já está, ao lado do show dos Beatles, entre uma das coisas que sinto saudades sem nunca ter experimentado ao vivo.

A solução foi ligar para o Oro e fazer uma reserva urgente! Viva Felipe Bronze e seu porquinho com canjiquinha defumada e rapadura nitrocongelada! Viva o tartar com fumaça de churrasco e gema de parmesão!


Afinal, como diz Ferran Adrià no filme: "Quando vc vai a um restaurante de vanguarda, não é apenas o paladar, o gostar ou não gostar que importa, e sim a emoção da experiência". E disso o Felipe Bronze sabe muito bem.

Comer: Ferran Adrià abriu uma nova casa em Barcelona, um bar de tapas. Chama-se Tickets. Não é nada, não é nada... // Oro, de Felipe Bronze (21 2266-7591).

Cariocas e o respeito


Ainda me espanto com a falta de consideração e respeito que impera nesse balneário ao sul do Equador.

“O Rio ainda tem muito o que aprender”, constata Roberta Sudbrack, eleita pelo Guia 4 Rodas (o “Michelin” dos trópicos) a melhor chef do ano.

Foi numa quarta-feira à noite (feriado) que reservei uma mesa de seis lugares para compartilhar com cinco amigos especiais as maravilhas que saem daquela cozinha envidraçada na casinha vermelha do Jardim Botânico. Reservei e confirmei, pois sei que as mesas de madeira maciça ali são concorridíssimas.

Qual não foi nossa surpresa – e, até, frustração, pq de-tes-to restaurante vazio, gosto de reparar no (des)prazer das pessoas comendo e convivendo entre pratos e talheres – ao ver o restaurante com vários lugares disponíveis. O que teria havido? Não estava chovendo, não tinha show de rock, não era uma tarde se sábado de sol. Resumindo, não havia motivo aparente para os cariocas escolherem outros programas.

“Levamos vários bolos essa noite. Abrimos as portas com a casa lotada de reservas. E todas confirmadas... Mas olha só como está...”, confidenciou a chef em sua ronda pelo salão.

Roberta Sudbrack pensa no cardápio, convoca sua “SudEquipe”, compra os ingredientes... Tudo considerando um número X de comensais. E aí o cidadão se acha no direito de, simplesmente, ficar em casa comendo miojo. Sim, ele tem esse direito. Mas poderia pelo menos avisar.

E aqui cabe uma ressalva. O maitre do RS também tem o direito de vir à nossa mesa e oferecer um champagne para tomarmos de aperitivo. Éramos seis e aceitamos. Mas cobrar seis taças (R$ 44 cada) e não uma garrafa (que certamente não era R$ 264) sem nos avisar me parece um erro e um exagero. 

No mais, tudo perfeito e o "menu dos meus sonhos": lagostim com chuchu e amendoim, pargo com vinagrete de lentilhas, ravioli de ricota com cebola croustillante, porquinho de leite com batatinhas croustillantes, e sorvete de pêssego com nectarina. Não podia pedir nada melhor do que essa sequencia incrível, que reuniu numa tacada só os meus dois pratos favoritos da Roberta (o lagostim e o porquinho).

Comer: Roberta Sudbrack (21 3874-0139)