terça-feira, 30 de agosto de 2011

A palavra é: Bistronomique

Nem só de esporte vive minha carreira como assessora de imprensa. Já fiz muito barulho em outras áreas. Até em gastronomia. No caso, o bistrô de Olivier Cozan em Ipanema. Além da paixão pela boa mesa e por vinhos, compartilhamos do mesmo prazer pela endorfina. Pra quem não sabe, o breton é um super maratonista e triatleta. Ano passado, curtimos um bocado o XTERRA Night Trail Run de Angra - Olivier, Manzan, Pierre, Louis e eu - a equipe Sakakuia. : )


Olivier sempre insistiu que para comer e beber bem, ninguém precisava ficar pobre. Até pq, digo eu agora, isso restringe o horizonte e tira o prazer da refeição. Sua carta de vinhos sempre foi de excelente custo-benefício. Os pratos, com os melhores produtos, nunca foram um assalto. Ainda não passei no IX Bistrô, sua nova casa no Shopping da Gávea. Menu fixo a R$ 29, água filtrada de graça... tudo no melhor estilo parisiense.

Claro que não podia esquecer de mon ami depois de tudo o que vivi nesses últimos 15 dias em Paris.

Aproveitei a viagem para experimentar alguns dos restaurantes que há muito povoavam meu imaginário (e minha gula!) e conheci outros tantos que virei fã. Todos "bistronomiques" - ou seja, assim como Cozan, embaixadores da alta gastronomia de baixas cifras.

O primeiro - adivinhem - foi o Le Comptoir, de Yves Cambderborde. Talvez agosto não seja o melhor mês para visitar a casa. Em vez do famoso menu do dia prix fixe com o que der na veneta do chef, eles oferecem apenas pratos individuais do cardápio. Talvez, sim, pq o chef esteja curtindo suas merecidas vacances de éte. Em agosto também não se aceita reserva, mas acho que isso não muda muito, pois não deve ser assim tão simples marcar hora numa das mesinhas do bistrô.


A fila, civilizadíssima e sem nome no bloquinho da hostess, não chega a torturar. Me falaram, quando dei o primeiro bonsoir, que a espera seria em torno de 45min. Foram 46 no relógio. Isso pq deixamos, educadamente, uma mesa de três passar à nossa frente para se acomodar num espaço maior.

Ah, sim, o "nós" somos eu e a futura chef do Cordon Bleu Thalita Kálix, que por quase dois anos atendeu ao Comitê Paraolímpico Brasileiro para a Media Guide, em Brasília.

Sentamos na varanda, espremidinhas entre duas outras mini mesas redondas. Pedimos umas "boulles", que para minha surpresa, veio servida em uma taça normal, não em taça de espumante.


Confesso que foi um pouco frustrante os dois pratos que escolhemos do cardápio não estarem disponíveis (um leitão para mim e uma carne para a Thalita). Ah, as férias de verão...

"Colamos" das mesas ao lado e pedimos de entrada uma tábua de embutidos. A terrine foi das melhores que já comi. Thalitinha, que nunca tinha encarado caramujos, não tem do que reclamar. Os do Comptoir são de chorar de bom. Lembrei de quando comia escargot com manteiga de alho que papai preparava, com toda classe, em Paraty... hummm.





O meu carré de cordeiro (ou "corder", como o Olivier chama!) será lembrado nessa e em outras vidas. E acredito que a carne da Thalita tb, em especial o pure au beurre com molho de vinho.

Um erro nosso foi a sobremesa (não entendemos tudo o que o entusiasmado garçon explicava e acabamos com um doce de queijo que não curti, não. Questão de gosto meu). Mesmo sem o preço fixo (normalmente EUR 55,00), a conta não foi extorsiva e passou pouco disso, mesmo com o bom St Emillion que pedimos.

Daí cheguei no hotel e recebi um email do médico da seleção brasileira de judô, Breno Schor - por sinal, a quem devo minha perna. Foi ele quem curou a famigerada fratura por estresse que tive ano passado. "Manu, tenho uma missão para vc. Tenta reservar o Le Chateaubriand para a gente".


Aprendi com Breno o que era (ou quem era) esse outro simpático e modernoso bistrô. O chef é basco - Iñaki Aizpitarte - e suas receitas não negam a origem, em que pesem as influências francesas, bien sur. Outra espera civilizada (eles só reservam para o primeiro serviço. A partir de 21:30, mais ou menos, é por ordem de chegada). Logo caímos nas graças do Sebastien, jovem barbudinho que arranhava umas palavras de português. Morou no Brasil por seis meses, trabalha com Aizpirarte há dois e é o responsável pela muito boa carta de vinhos. Optamos pelo menu com harmonização. O menu simples custaria EUR 55,00. Grande noite, em especial pelos vinhos muito bem escolhidos. Os pratos achei um tanto ácidos (o que acaba sendo repetitivo) e arrisquei até comer um coração de pato de amuse bouche. Ah, nota da redação: o pãozinho de queijo de entrada é primo não muito distante dos que a Roberta Sudbrack serve em sua casa vermelha. Que delícia!

Encantados com os vinhos, fomos nos aproximando de Sebastien. O restaurante já ia diminuindo o movimento e Sebastian encostou na mesa ao lado para conversar conosco. Foi dele a melhor dica da viagem: vcs têm que conhecer o Septime. Mesma linha: jovem chef, jovem staff, bons vinhos, ótima comida, ambiente agradável. No caso, quem manda nas panelas por ali é Bertrand Gébraut, a quem se pode ver regendo a orquestra na cozinha aberta para o salão. Dessa vez juntei os dois "cúmplices" - Breno e Thalitinha em torno da mesma mesa.

Chegamos para o segundo serviço (não telefonamos), mas quase tivemos que voltar da porta. Lotado e a cozinha fechava 22:00. Falamos que era indicação do Sebastien. Logo um espaço no balcão se abriu, bebemos um belo champagne, nos ofereceram um delicioso jambon ibérico e a espera foi suave e alegre até que um grupo saiu e pudemos nos instalar (sem a menor cara feia do staff ou da cozinha, apesar do avançado da hora).

A futura chef do Cordon Bleu clicou tudo para poder contar a vcs:

 

Atum com pepino, leitão com legumes, peixe com purê de alcachofra (divino), sorvete de menta com chocolate. Todos obras de arte.

E isso pq não tivemos tempo de ir no Le Verne Volé, outra dica do Sebastien. Mal posso esperar.

Comer (bem) em Paris: Le Comptoir (9, Carrefour de L'Odeon, Metrô Odeon / 01 43 29 12 05), Le Chateaubriand (129, Av Parmentier, Metrô Goncourt / 01 43 57 45 95 ), Septime (80, Rue de Charrone, Metrô Charrone / 01 43 67 38 29) e Le Verne Volé (67, Rue de Lancry / 01 48 03 17 37).

Um comentário: