terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vida corrida e quatro sugestões de percurso em Paris

Toda viagem que faço a trabalho é a mesma coisa. Posto as fotos e o povo comenta: "Queria ter um trabalho que nem o seu!" ou "Noooosa, Manu, como vc consegue correr e ainda ralar tanto!?".

Para o primeiro espanto respondo: não se iludam. Parece, mas não é. Sim, é bom demais trabalhar com esporte, mas não é a Disneylandia que vcs pensam, não. Final de semana? Feriado? Sei lá o que é isso... Me lembro do Ruy Castro no livro "Carnaval no Fogo" (fica a dica, excelente leitura) falando sobre o mito que paira na cabeça dos paulistas que o carioca não trabalha. "Temos culpa, ora, se quando não estamos trabalhando temos o que fazer? Podemos ir à praia, botecar, correr na Lagoa e não se enfurnar em shoppings?" - ou algo nessa linha. Comigo é assim também: vcs acham que dá tempo para tirar foto quando estou "toureando" a imprensa na Zona Mista depois de uma medalha? Bem, às vezes até dá, mas registro mesmo são os bons momentos entre um trabalho e outro. Afinal, se o dia tem 24h, temos que aproveitar todas elas, né?

Bercy, Paris - Bronze para Sarah Menezes e prata para Leandro Cunha no Mundial de Judô. Deu tempo de tietar na Zona Mista, oba! 
Bem, para a segunda pergunta a resposta é mais simples e direta ainda: só consigo dar conta do recado pq me permito, e é sempre, desestressar a cabeça e o corpo correndo por aí.

Foi assim no Tour do Rio no fim de julho, foi assim no Mundial de Judô em Paris em agosto. É sempre assim. Aliás, foi por essas e outras que escasquetei de correr maratona. Eu viajava tanto que o único esporte que conseguiria fazer era correr e para não dar chance para a preguiça, botei no horizonte uma meta que exigisse o mínimo (ou o máximo, como queiram) de empenho.

No Tour do Rio - a Volta Ciclística que percorre 800km pelas estradas do Rio de Janeiro, entre Serra e Mar, no melhor estilo Tour de France - até que demorei a calçar o tênis esse ano. Em 2010, em companhia do amigo Márcio Bruno, que fotografava para a Go Outside, batemos ponto em Volta Redonda, Três Rios, Friburgo e Cabo Frio. Já esse ano só liguei o Garmin quando já estávamos em Teresópolis. A escolta não era menos "luxuosa": Sidney Bacana, Alirio Castro e Claudio Clarindo. Saímos do hotel num fim de tarde "tipo exportação", como diz papai, e encaramos 10km pela serra (no acostamento, que é bem largo). Belo treino. O problema, pra variar, é a falta de educação dos motoristas.

Entardecer na Serra de Teresópolis com o Dedo de Deus ao fundo. Por: Alírio de Castro
Nas duas semanas que passei em Paris cobrindo o Mundial de Judô (a menos de 20 dias para a Meia de Buenos Aires e a pouco mais de 40 dias para a Maratona de Amsterdam), a meta era tentar não destreinar tanto apesar dos foie gras e vinhos às margens do Sena.

Não segui tão à risca o dever de casa, confesso, mas fiz boas corridas por lá tendo meu fiel GPS por testemunha. No primeiro dia foram 10km pelo Bois de Boulogne. Um lugar bacana: arborizado, com um belo lago no centro, algumas pequenas subidas, piso que varia de asfalto para terra batida e um terreno que permite longas distâncias. O problema é que os travecos que adotaram aquela vizinhança trazem consigo um público um tanto estranho para o Bois de Boulongne. Não me senti ameaçada e tem bastante gente correndo ali de manhã, mas o sexto sentido de carioca acendeu a luz amarela.

No outro dia fiz um caminho diferente. Como meu hotel ficava na Porte Maillot (entre o Arco do Triunfo e o La Defense), cobri a distância entre os dois arcos. Deu 9km e uns quebrados, quase 10k em linha reta contando a ida e a volta, porta a porta do hotel. Não se deixe enganar: a Avenue de La Grande Armee é um falso plano. O mesmo valendo para o trecho da Champs Elisees até a Place de La Concorde (nesse caminho, melhor ir bem cedo pela manhã para evitar trombar com os enxames de brasileiros e japoneses por ali...).

La Defense
Arco do Triunfo

O Zimbra vai ficar orgulhoso. Pq teve mais corrida no repertório parisiense. Da Gare de Lyon, num belo dia, fui até a Notre Dame e voltei. Deu 6km. Podia ter ido mais, mas a Quai que vai chegando à Notre Dame estava um tanto mal frequentada, com pedintes e jovens baderneiros tomando vodka no gargalo. Preferi não arriscar. O bom desse percurso é que é todo à beira do rio, passando pelo parque de esculturas ao ar livre.

O último itinerário que inventei foi de 10km pelo Jardin de Plantes até a Notre Dame. Saí da Gare de Lyon e entrei no Jardin de Plantes, um jardim bastante frequentado por grupos de escolares e parisienses com baguetes na hora do almoço, mais do que por turistas. A volta ao parque, beirando a grade, é toda feita em terra batida, com bastante sombra. Dá quase 2km com direito a uma subidinha boa (mas curta) em determinado momento. Surpreendente o grande número de corredores por ali. Dei três voltas no circuito e emendei pela beira do rio até Notre Dame e voltei ao hotel. Já estava pronta para tudo o que me esperava no Atelier Etoile do Joel Robouchon. Mas isso eu conto em outro post.

Correr: Em Paris, experimentei quatro percurso descritos acima. Há muitos outros. Todos eles são de nível fácil e nos "urbanos" é preciso escolher horários com poucos turistas na rua. Para correr na Quai (beira-rio) e no Bois de Boulogne, evitar o escuro, quando esses lugares ficam um pouco mais perigosos.

PS: Um dia ainda vou correr a Maratona de Paris. E acho que vai ser logo.


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