segunda-feira, 10 de junho de 2013

A incrível Chapada dos Veadeiros

Não precisa se assustar com a maior concentração de doidão por metro quadrado que vc vai encontrar na sua vida. Eles são inofensivos e fazem parte da inconfundível paisagem da Chapada dos Veadeiros, tal qual cachoeiras, araras e as coloridas flores do cerrado.

Vc vai ver cristais, pirâmides e ETs. Vai ouvir a história do brilho do solo da Chapada, visível aos telescópios espaciais da Nasa. E vai escutar também sobre o fato de Alto Paraíso, a "capital" da Chapada, estar no mesmo paralelo de Machu Picchu (ahhhhh!!!!). Imagina como bombou o fim do mundo por lá em 22 de dezembro do ano passado! "Até a Xuxa veio passar aqui na casa da Maria Paula", contou o meu guia, Alexandre, figuraça cheio de histórias.

Mas a Chapada é mais do que ovnis e esoterismo. É natureza, é história, é personalidade. Praticamente esquecida pelos brasileiros em geral a 270km de Brasília, a Chapada dos Veadeiros é um Parque Nacional muito bem cuidado, rodeado de propriedades que fazem dinheiro abrindo suas portas para turistas fazerem caminhadas e tomarem banho de rio.

São três as cidades principais da região: Alto Paraíso (com mais infras de hotéis, restaurantes, bancos, comunicação, asfalto), Cavalcante (que nunca fui) e São Jorge (vilazinha com uma única rua - não pavimentada - e um astral sensacional). As duas últimas ficam próximas à entrada do Parque, sendo que a mais popular é São Jorge, onde fiquei.

Alugamos uma casinha, mas poderíamos ter ficado numa das super aconchegantes pousadas de São Jorge. As duas que recomendo (apesar de não ter experimentado) são a Casa das Flores e a Baguá, ambas elogiadíssimas por uma amiga minha que sabe o que é bom.

Foram quatro dias de muita caminhada e comida boa, que divido aqui com vcs. O casal de guias Patrícia (62 9655-8440) e Alexandre (62 9696-3307) é um barataço - e fazem o rolé ainda mais interessante.

Nem todas as trilhas exigem guia, o que é ótimo. Os dois percursos abertos dentro do Parque, a partir de São Jorge, são autoguiados. Fiquei amarradona de ver trilhas limpas e bem sinalizadas. Impossível se perder. Na sede do Parque vc pega um mapinha, assiste a um vídeo, se informa sobre o cerrado e as atrações e pronto. A entrada (de graça!) só é permitida até 12h.

Cachoeira do Salto!
Nós fizemos o roteiro da Cachoeira do Salto. Com um sobe-desce animado em certos pontos, mas de nível moderado. Mesmo em feriado, estava vazio. Nas cachoeiras, nunca mais do que 8-10 pessoas. E sempre a presença de bombeiros fazendo a segurança, prática comum em dias de maior movimento.

Num dia mais preguiçoso, optamos por ir à Fazenda São Bento (entrada R$ 15 ou R$ 10, dependendo da cachu que vc vai) e curtimos a Almécegas, que estava um pouco mais cheia mas nada que perturbasse a paz. Altas duchas.

Almécegas!
Na São Bento há bastante infra e atrações pagas, como uma tirolesa de 850m que, dizem, é bacaníssima. Mas a gente estava mesmo é na pilha de ir até o Rancho do Waldomiro experimentar a sua famosa matula, uma espécie de tutu de feijão enriquecido com carnes, que é o prato típico dos bóia fria goianos. Por R$ 25/pessoa, vc come o quanto quiser (e é tão gostoso que vc sempre quer mais!). Pra abrir o apetite, não deixe de provar as cachaças artesanais que o seu Waldomiro faz, sempre com alguma planta do cerrado.


É tudo relativamente perto na Chapada, mas na maioria das vezes a partir de estradas de terra. Ou seja, um carro valente vai fazer a sua vida mais fácil. A partir de São Jorge, por exemplo, são quase 30min até a Fazenda São Bento (já no trecho asfaltado da estrada para Alto Paraíso). O Waldomiro fica quase no meio do caminho, logo depois do jardim de Maytrea. O que é isso? Um pedaço de terra com flores e troncos de buriti onde as araras batem ponto. "Lenda", pensei. Mas em 15min ali vi mais araras do que vc vê pombos na piazza San Marco, em Veneza. Brincadeiras à parte, é impressionante como elas desfilam diante de nossos olhos, sempre aos pares, e gritando forte um som que ecoa pela imensidão.

Araras no Jardim de Maytrea.
Outro passeio fácil e lindo é o Vale da Lua, uma formação rochosa que faz vc acreditar que está na terra dos ETs de verdade. Fica em outra propriedade particular então é preciso desembolsar R$ 10 pra entrar. Mas não me incomodo de pagar para ter serviços decentes: trilhas sinalizadas (bilingue!), banheiro limpo...

Vale da Lua!
O tempo todo é preciso ficar atento à chuva - principalmente nas cabeceiras dos rios e que são as responsáveis pelas temidíssimas tromba d'agua. Não é coisa rara por lá. Com a chuva o volume aumenta e a água sai varrendo o que vem pela frente.

É mais ou menos por isso que a trilha do Segredo é importante ser feita com guia. Vc cruza 14 vezes o Rio Segredo é preciso estar atento aos sinais da natureza para não correr riscos. "A gente ouve o barulho e deixa a água passar. Depois de duas horas ela baixa e a gente continua", diz Alexandre, contando um ou outro caso mais perrengoso de sua longa carreira como guia na região.

Cachoeira do Segredo e a trilha!
A trilha do Segredo (que vai até o cânion onde cai a cachoeirona!) é demais da conta! São umas 3h para ir (parando) e cerca de duas para voltar. Super plana, mas longa e com pedras. Bem molhada (atenção para os pés). Vale sair cedinho para chegar na cachu com sol batendo pois de tarde ela já está na sombra. Em breve vai ser possível acampar ali no rancho do René, um dos herdeiros daquelas terras.  "Tem gente que foge da muvuca e eu aqui cansado da solidão", filosofou ele em sua rede.

Para comer, há muita coisa beeeem bacana. Experimentamos a risoteria Santo Cerrado - petiscos gostosos, risotos no ponto, música ao vivo e uma caipirinha de uva roxa de tirar do sério! Fomos também à pizzaria (boa, mas com atendimento confuso e não aceita cartão - embora deixem vc passar o cartão na pousada ao lado. Mas tem que insistir. E lembre-se: é piz-za-ri-a. Ou seja, não inventa de pedir crepe. Ruimzinho...). Nosso café da manhã (e lanche de trilha) foi sempre no Hibisco, padoquinha quase na entrada do Parque e que serve altos sucos, vitaminas, bolos e sandubas (em pão caseiro de gergelim, batata ou abóbora) deliciosos e baratíssimos. Mesmo que tenha café na pousada, não deixa de parar lá e pedir um queijo quente com ovo. Hummm, salivei!

E claro que vc vai voltar da trilha com aquela fome de anteontem. Ou seja, sem tempo para frescuras. Momento perfeito para experimentar um dos espetinhos na brasa bem em frente ao armazém São Jorge, na rua principal. R$ 3,50 cada (frango com bacon, picanha, kafta...).

Churrasquim!
Hibisco - imperdível.
Santo Cerrado. Altos risotos e drinks.
Depois de tudo isso, voltando pra Brasília, passe em Alto Paraíso e não deixe de comer na Oca, restaurante vegetariano bom demais. Vai voltar pra casa, garanto, com um astral e tanto.

PS: Na estrada ou na cidade, fique sempre atento: tem tucano, papagaios, araras, pica-paus... Um presente!!!

Um comentário:

  1. Legal! vou conhecer em novembro, devido à corrida 50 milhas de montanha... mksports

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