domingo, 9 de junho de 2013

Foi mal, Iri!

Foram dois meses sem postar por aqui. Perdão, leitores. Tem tanta coisa pra contar, que nem sabia bem por onde começar. Daí me veio à cabeça (e ao coração) um dos acontecimentos que mais mexeram comigo nesses mais de 60 dias de silêncio. A morte do Irineu, barqueiro na sede náutica do Botafogo.

Era terça-feira 2 de abril quando botei o barco na água com a Luciana, minha parceira de muitas deliciosas remadas. Tanto eu, quanto ela, não aparecíamos no clube fazia tempo. O suficiente para o Xoxô com aquele jeitão dele gritar da lancha. "Hoje é um dia especial: voltou a Manu, voltou a Lu, voltou o Irineu, voltou todo mundo!".

Seu Irineu, mais de 40 anos de garagem de remo, era uma das personalidades mais queridas da Lagoa (quem não conheceu a barraca de Coco do Irineu...). Há coisa de dois anos tinha se aposentado e, enfim, ido para "São Pedro da Aldeia. Lá é que é bom, minha filha". Essa era uma das ladainhas do "Véio". Figuraça, gostava de botar pilha em todas as guarnições alvinegras dizendo que "o Flamengo está treinando forte, vcs vão remar só isso?". Também conversava com a Xuxa, a garça que ele jurava saber reconhecer. Num dia de sol qualquer, ele apressava a molecada com o seu clássico "vambora que vem chuva aí!". E vinha. Era seu Irineu quem passava cera nos cascos antes da regata, quem carregava barcos quase sozinho mesmo com seus quase 80 anos. Negão forte pra dedéu.

Depois do breve afastamento do clube, Irineu voltou. Estava botando ordem no alojamento, ele me disse naquela terça-feira. "Esses moleques fazem muita bagunça". Também estava dando um jeito na rampa, botando moral pra que remos e barcos fossem guardados com zelo e disciplina. "Olha como isso aqui já mudou, minha filha. Em só três dias". Era uma alegria e uma segurança ter o seu Irineu por perto.

Na quinta de noite saí de férias com Pedro. No sábado de manhã, ao conectar pela primeira vez no Facebook, o choque: seu Irineu tinha partido. A sensação que ficou era a de ele tinha voltado ao clube que tanto amava (e onde tinha pessoas que tanto o amavam também) para dizer adeus.

E com esse nó na garganta passei um mês e meio treinando para a segunda regata do Campeonato Estadual de Remo - que seria dedicada à sua memória. Ele fazia falta na zorra das dezenas de barcos encostando ao mesmo tempo, fazia falta com o sorriso e com a rabugice deliciosa. Mas seu nome estava lá na placa que dá nome à garagem (justa homenagem prestada em vida, diga-se de passagem), fortalecendo a gente a cada dia.

"Vamos ganhar essa regata pelo Irineu", disse o Murad, diretor do Botafogo e amigo especial, em sua preleção do sábado de manhã.

Mas não deu. Fiz, talvez, a pior prova dos meus 15 anos de Lagoa. Saí arrasada. Chorando como se tivesse perdido uma Olimpíada. Num astral que meu pai, minha mãe e o Pedro tiveram dificuldade em contornar naquele lindo domingo de sol. Era tristeza. Tanta que só neste final de semana (três semanas depois da regata) consegui chutar o bode para escanteio e voltar a dar minhas remadas.

Foi mal, Iri. Queria ter feito mais por ti. Vc faz falta, véio.

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