segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Coup de Coeur: Paris em 4 tempos (+1 bônus)

Pedro me deu de aniversário, no ano passado, o Guia Michelin 2012 da França. De comer com os olhos. Naquela ocasião, fomos comemorar meus 35 no Il Vino by Enrico Bernardo, o restaurante onde o melhor sommelier do mundo em 2004 faz uma proposta diferente: vc escolhe o(s) vinho (s) e o prato é surpresa. Levou uma estrela dos críticos do livreto vermelho.

Foi uma experiência bacana, claro, mas não arrebatadora. Nos divertimos com o menu totalmente às cegas (pratos e vinhos surpresa), comemos e bebemos bem. E ainda bem que havia um indefectível Chablis para não derrubar minha auto-estima de enófila.

 O trabalho me deu o privilégio de voltar a Paris agora neste começo de fevereiro (bem no Carnaval!) e folheei novamente, gulosa, as delicadas páginas de papel de seda. Eu ficaria baseada no 12eme arrondissement (Bercy) e era aquela região que pretendia vasculhar.

Abri apenas duas exceções geográficas: o tradicional Astier, dica do connaisseur Bruno Agostini, e o Ze Kitchen Gallerie, bistrô moderninho que eu morria de curiosidade de conhecer e acabei, sem querer, num almoço tardio de dia de semana com um amigo que trabalha na Embaixada do Brasil.

O Astier fica ali entre Nation e Republique. Uma casinha pequena de esquina. Cortininhas na janela, muita madeira no interior, staff pequeno e toalhas quadriculadas na mesa. Com direito a guardanapo de pano - sinal de 'autenticiade' que, andei sabendo, começa a rarear por aquelas bandas do Sena.

Estava sozinha e cheguei cedo, logo no começo do serviço do jantar (19:00). Pedi um champagne para começar a pensar diante do quadro negro com as opções da semana. Em seguida curti o primeiro foie gras da temporada parisiense (com avelãs e figo) e, depois, um peixe branco (Saumonette) com cogumelos e um purê que veio carregado demais no alho. Abri mão da sobremesa e caí dentro dos queijos, que chegam numa bandejona à mesa para vc se servir à vontade. Foi o ponto alto da noite, que teve participação também de um Côtes du Rhone e de um Pouilly Fumé (infelizmente lá não tem meia garrafa. Só taça, 750ml ou Magnum. Não era o caso de encarar as duas últimas opções).

Já o Ze Kitchen deve sua primeira (e até agora única) estrela Michelin à comida saborosa e bem apresentada, num ambiente moderno que mistura influência asiática no paladar com obras de arte nas paredes. Os pratos, não por coincidência, são lindamente apresentados, como se fossem uma aquarela.

Fiquei nos vinhos brancos: Kir como aperitivo e Chablis em seguida, para acompanhar a entrada de ostras, mariscos e molho com wasabi. Depois veio o peixe com endívia - delicadíssimo. Novamente o melhor (para meu paladar naquele dia) ficou para o final: o incrível sorvete de chocolate branco com wasabi e manga. U-la-la!

Mesmo sem reserva (o que não é de bom tom nem muito aconselhável fazer, sobretudo em restaurantes concorridos), fomos extremamente bem acolhidos. Já era 14:00, fim do serviço, e nem por isso havia sinal de pressa como acontece volta e meia aqui no Balneário.

Por mais que tenha adorado as descobertas tanto no Astier, quanto no Ze Kitchen, acho que minha viagem não teria sido a mesma sem ter convivido com o figuraça Boboss, no Le Quincy (onde comi o melhor coelho dos últimos 35 anos), ou experimentado o inigualável aligot (e o mil folhas!) do L'Auberge Aveyronnaise, ambos a menos de 10min andando de onde estava em Bercy.

Varandinha do Le Quincy.
"Você tem fome? Tem sede? Tem dinheiro? Aqui a gente não aceita cartão!". Foi assim as 'boas vindas' do velho atendente barrando minha entrada no salão principal do Le Quincy.

"Oui, j'ai tout. Et j'ai aussi froid", respondi com um sorriso, emendando que, de jeito nenhum, estava com pressa (outra pergunta metralhada em minha direção) de modo a tentar convencer o senhor a me oferecer um lugar para almoçar (também sem reserva...).

Logo estava instalada na charmosíssima varanda, com seus quadriculados branco-vermelho atestando "caráter". Chega à minha mesa uma tacinha de champagne e pedaços de salame cortado na hora, como "símbolo da amizade", segundo o senhorzinho.

Boboss, o dono bonachão que estava sentado numa mesa no salão principal, depois de verificar que eu tinha "toutes les qualités et, en plus, elle est mignone", veio ao meu cantinho cumprimentar. Li depois que o patron costuma ser genioso, por vezes simpaticão, outras carrancudo. Sorte que peguei o véio num "dia sim".

Cahors, terrine de campagne, salada de repolho
e pão caseiro. Sem mais.
Enquanto me deliciava com uma terrine de campagne maison com salada de repolho (imperdível), observava o vaivém dos convivas no salão. Todos "de casa", com mesas cativas e abraços calorosos em Boboss. Alguns desavisados adentram e não entendem as palavras de ordem ditas por Boboss e seus assistentes. Uma senhora, depois de soltar um "il est fou quoi!?", quase deu meia volta não fosse a insistência do marido para permanecer.

Pedi um Cahors (Chateau Lagrezette 2005, formidável) e fui informada que só pagaria o que consumisse da garrafa recém-aberta. Se eu não tivesse que trabalhar em seguida, certamente teria pago por ela inteira... Ainda mais com a cortesia que chegou, em seguida, à minha mesa: presunto cru para comer com as mãos, segundo ensinou Boboss com um sorriso cúmplice.

Ousei e pedi coelho como prato principal, carne que não costumo gostar muito. Fiz bem. E muito. Servido com molho de vinho branco (de comer de colherzinha no final!!!), fettucini na manteiga e... croutons! Que lindeza!

Ah, o coelho!
Para arrematar, pousa ao meu redor a seleção de sobremesas da casa: frutas confit, mousse de chocolate, sorvete de baunilha feito ali mesmo. E olha que não sou de doce...

Sobremesas.
Saí emocionada.

O séjour parisiense ainda me reservou um outro presente gastronômico. O L'Auberge Aveyronnaise fica exatamente na continuação da rua do ginásio de Bercy, meu QG quando trabalho na capital francesa. Dois quarteirões sob neve fina e lá estava eu (bem) acolhida pelo simpático proprietário, indignado por eu estar sozinha num almoço de domingo. Esperei no bar com uma taça de Pommery enquanto beliscava salames e pãezinhos de cortesia até a "plus belle table" ficar pronta para mim.

A terrine de foie gras com geléia e pão caseiro me fez sorrir, apesar do vinho jovem e frutado que a garçonete me ofereceu (e eu pedi para trocar por um mais encorpado, bien sur). A paleta de cordeiro com o aligot justifica encarar filas que, soube, se instalam na porta nos finais de semana. O aligot (uma mistura fantástica de purê de batata e diferentes tipos de queijo, finalizada à mesa num show de "estica-e-puxa") é para aplaudir de pé. Mas não se esqueça de deixar espaço para o mil folhas caseiríssimo que fica ali no fundo do salão, numa tentação sem fim durante toda a refeição.

Dois carros a menos


Não por acaso nosso carro tem apenas 27 mil quilômetros rodados em quatro anos de vida. Já eu e Pedro...

A vantagem de se morar (na Zona Sul) no Rio de Janeiro é que as distâncias são pequenas e os trajetos planos. Em que pese a falta de civilidade de alguns motoristas, o Rio é perfeito para correr e pedalar. E não apenas em um circuito turístico, como sugere o traçado das ciclovias da cidade.

Pois esse ano resolvemos tirar o nosso carro da rua. Definitivamente. Pedro tem batido ponto no RB1 de bicicleta. Coisa de 20km ida e volta pelo Aterro do Flamengo. E eu, pelo menos quatro vezes por semana, calço o tênis pra sair da Torre do Rio Sul. É tão perto de casa, que dou uma enchida de linguiça por dentro da Urca e na Praia de Botafogo para fazer, pelo menos, 40 minutos de corrida na volta do trabalho.

É questão de hábito. É questão de se organizar e respirar fundo, acreditando que vc não vai ser atropelado nem assaltado. Muito menos ser intoxicado pela fumaça dos carros. Quase um mantra.

Nas últimas vezes que fui pra Londres, fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que fazia o trajeto casa-trabalho correndo com mochila de roupa nas costas. Tudo para fugir do tube lotado e do engarrafamento. Decidi experimentar e fazer o mesmo. Com o Garmin como cúmplice, dá para matar vários coelhos com uma só: faz bem a saúde, otimiza o tempo, evita estresse do trânsito e cumpre o treino do dia. (e vou falar que, em algumas noites, chego mais rápido correndo do que se estivesse entalada na caótica Mena Barreto).

Pedro também está amarradão. Para tomar banho, porém, ele precisou se matricular na academia do prédio. E negociar muito com a administração do RB1 para ter um estacionamento de bike na garagem.

Experimente também. De um em um, serão vários carros a menos. Vá de bike. Ou correndo!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Maratonista abaixo de zero

Autofoto antes de botar o nariz do lado de fora, onde a temperatura
era coisa de 5 graus
Para queimar as calorias colecionadas em uma semana em Paris graças ao guia Michelin na cabeceira, não pensei duas vezes. Tênis no pé e Garmin no pulso. Ou melhor, pensei duas vezes, sim. Do lado de fora, um ar que entrava congelando o pulmão. Temperatura média: 5 graus. Já prevendo que teria de correr na geladeira, me preparei para a missão, ainda no Rio: botei na mala calças legging, meias quentinhas, camisa de manga comprida, casaco, luva e faixa para esquentar as orelhas.

Bem empacotadinha, dei deliciosas corridas em Paris. Aliás, correr durante as viagens é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Uma forma bacana de conhecer de apreciar e conhecer as cidades, sem deixar as férias ou o trabalho acabarem com a sua rotina de exercícios.

A primeira corrida foi a mais gostosa. Foram 50min ida-volta do hotel até a Notre Dame, sempre à beira do Sena, passando pelo Jardin des Plantes, Istitut du Monde Arabe, Ile St Louis. Poucas pessoas se aventuravam como eu, mas foi um alívio (e uma alegria) ver que eu não estava sozinha ao longo do caminho.

Noutro dia dei uma volta de 30min por Bercy mesmo. Bercy é um bairro pouco turístico nas proximidades da Gare de Lyon. Era finalzinho de tarde e o vento estava mais gelado do que nunca. Ao chegar no ginásio onde fui encontrar a seleção brasileira de judô (motivo do meu trabalho lá), ouvi os seguranças comentando entre si: "Nossa, hoje não é lá um grande dia para correr!". Merci beaucoup.

Por fim, antes de embarcar na segunda de Carnaval, vesti as várias camadas de roupa para 40min pelo Parc de Bercy. Foram quatro voltas em piso misto (paralelepípedo, asfalto, terra, escadarias...). Era pouco antes de meio dia e vi outros quatro ou cinco corredores tão bem vestidos quanto eu.

Foi quando me dei conta que a Maratona de Paris é daqui a três meses. Sempre resmunguei calada o sofrimento que é treinar para uma maratona na orla escaldante do Rio de Janeiro. Cruel, muito cruel. Antes mesmo de embarcar, semana passada, tinha encarado 12km num sabadão de sol que me fizeram jurar nunca mais repetir a dose (claro, isso durou até hoje, quando corri 30min sob uma 'lua' de uma da tarde). A Maratona do Rio é em julho e, quem quer se dar bem, passa verão e outono na pista. Suando em bicas.

E os parisienese, coitados? Para enfrentar 42,195m em abril, o inverno é todo correndo. E, convenhamos, não dá para treinar para uma maratona em cima de uma esteira o tempo todo. Deve ser doído também. Mas é a aquela coisa... fortalece a mente!

A solução? Coragem, motivação, roupas adequadas, protetores labiais. Vale para sol ou para neve. Tal lá, qual cá.

Aí fico pensando nos meus amigos Bernardo Fonseca e Clayton Conservani, que saíram da Antártica para o Saara.

Acho que vou ficando por aqui mesmo...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Noronha sobre duas rodas


Jamais aluguei um bugre em Fernando de Noronha e me orgulho muito disso : ). Gastar R$ 150 por dia e R$ 4 o litro da gasolina para percorrer não mais do que 7,5km e deixar o carro estacionado a maior parte do tempo não faz muito a minha cabeça. Até pq não combina com Noronha o cheiro da fumaça que sai do cano de descarga.

Nas primeiras idas ao arquipélago, usei bastante a Nortaxi (81 3619-1314), a simpática cooperativa de bugreiros da ilha. Infelizmente os carros sem capota, com poeira por todos os lados e um barulhão do motor deram lugar a Eco Sport, novo Uno, Palios Adventure. Tô fora.

Até que, em 2007, resolvi levar minha bike para ser o meio de transporte oficial daquelas férias. Virei “a menina de bicicleta” encarando o ladeirão do Porto, a mega subida entre logo depois da Floresta Velha, os paralelepípedos da Vila dos Remédios, as pedra soltas e valas da estradinha da Conceição. Libertador.

Não há trilhas radicais no Parque, esquece. É bike como transporte mesmo (embora seja transporte, é bom estar com fôlego e panturrilhas em dia e saber se virar em estradas de terra com obstáculos). A administração de Noronha construiu uma ciclovia margeando a BR 363, mas o piso não é apropriado (tijolos), há mato crescendo e pessoas caminhando. Como o movimento na estrada é pequeno, dá para ir pelo asfalto. Com toda atenção, obviamente. Ainda assim, não invente de levar pneu liso ou bike de estrada. É MTB que vc vai precisar (mesmo no asfalto, totalmente irregular).

Ano passado repeti a dose com Pedro.

“Manu!!??”, espantou-se Duda Rei, levantando da cadeira no bar que leva o seu nome na Praia da Conceição.

Com aquela bicicleta (de novo), só podia ser eu! : )

A diferença para 2007 é que, em 2012, choveu pra dedéu nos primeiros dias e a água transformou em lama a terra das estradas que levavam à Cacimba, Sancho e Boldró. O que só aumentou a diversão.

O aluguel de bike ainda é tímido em Noronha. Apenas uma pousadinha (em frente à Mãezinha, na beira da BR) costumava alugar, mesmo assim bicicletas mal cuidadas e sem marcha (para as ladeiras isso é fundamental). Se quiser passear sobre duas rodas, leve você mesmo a sua (perdi a conta da quantidade de pessoas que perguntou onde tínhamos conseguido as nossas!).

Na primeira vez, não levei corrente ou cadeado. Deixava sempre alguém de olho na magrela ou malocava a bichinha em algum canto. As coisas mudaram por lá. Embora, como eles mesmo bricam, “não tem como passar desapercebido ou ir muito longe com a bicicleta na ilha”, o melhor é não vacilar para não estragar as férias. Prende a bike e vai curtir as tartarugas descansado!

As duas companhias que voam para Noronha (Trip/TAM e GOL) não cobram para transportar bicicletas (entra na franquia da bagagem), mas exigem que ela esteja embalada (malabike ou plástico). Importante avisar ao transfer da pousada que vc terá esse volume extra, pois muitas vezes a van que vai buscar no aeroporto é compartilhada por várias pousadas e hóspedes.

Com certeza, de bicicleta, vc vai conhecer uma Noronha bem diferente.

Ah, o outro post que eu escrevi sobre Fernando de Noronha está aqui - A Ilha de Utopia.

Cinqueterre de todos os ângulos


Manarola vista do hotel à noite.
Era ano 2000. Meu pai havia me dado férias na Itália depois de um GP de Formula 1 em Milão que ele tinha ido a trabalho (me levando a tiracolo). Mochila nas costas e o Guia Visual da Folha na mão, peguei um trem sozinha para sassaricar por Florença, Roma e litoral noroeste da ‘Bota’. Na varanda do albergue em Gênova, buscava frenética um novo lugar para visitar pois não estava me sentindo nem um pouco à vontade na cidade que viu zarpar grandes navegadores. Ao meu lado, um australiano, duas canadenses, uma japonesa que tocava violino na Universidade de Strasburgo e um texano. No dia seguinte, estávamos todos percorrendo, num astral que até hoje me arrepia e traz boas lembranças, as cinco cidadezinhas que colorem os penhascos ao sul de Gênova. Foi minha primeira e mágica experiência em Cinqueterre.

Ano passado, enfim, realizei meu desejo de voltar lá. Dessa vez com pessoas que amo para comemorar meus 35 anos:  meus dois Pedros (o marido e o meu melhor amigo – este com a namorada) e meu irmão com a namorada.

Uma chuva, em outubro de 2011, devastou Vernazza e parte das trilhas e estradas. Um esforço da população reconstruiu parte do comércio e restaurantes (sobretudo em Monterosso e Vernazza) e não deixou abalar a autoestima dos habitantes, que vivem do turismo, naturalmente.

Pesquisa dali e daqui, encontrei um hotelzinho em Manarola cheio de charme: o La Torreta. São algo como cinco apartamentos que se derramam sobre a encosta. Vista sem igual. Atendimento acolhedor. É caro. Mas é especial.

A primeira grande dica para quem for a Cinqueterre: não fique nas cidades “das pontas” – Riomaggiore e Monterosso. Elas são mais acessíveis (por carro e trem), mais turísticas (muitos grupos e serviços impessoais), mais “americanizadas”. Ficamos uma noite em Manarola e abrimos mão da hospedagem em Vernazza na segunda noite (seria a Affitacamere Tonino Basso. Não fique lá de jeito nenhum!!!!) e acabamos, infelizmente, parando num hotelzinho na beira da estrada (acolhedor, mas sem estilo) chamado Due Gemelli – bom, bonito e barato, que não era bem o que queríamos para a noite do meu aniversário. Mas não deixa de ser uma alternativa econômica e eficiente. E com um ótimo café da manhã!

Dá para fazer um “bate-volta” e percorrer as cinco cidades a partir de Gênova,  Pisa ou La Spezia, sobretudo se for mesclar os meios de transporte, usando trem, barco e caminhada. Para dormir em Cinqueterre, opte, na ordem, por pernoitar em Manarola, Corniglia e Vernazza. E nem pense em ir sem reservar.

Partimos no primeiro dia para fazer a trilha de Manarola a Vernazza, passando por Corniglia. Antes de iniciar a caminhada, é preciso comprar o “Cinqueterre Card”, um passe de um ou dois dias que dá direito a acessar as vias do Parque. Compre mesmo, pois é checado!

Devido à chuva, o caminho mais plano entre Manarola e Corniglia estava fechado e a opção foi subir até a cidade de Volastra para depois descer, o que torna o caminho tão mais duro quanto deslumbrante.

Início da subida em direção a Volastra.
Levamos quase quatro horas para fazer tudo, parando para tomar cerveja, colher figos e uvas do pé, contemplar o visual, tirar fotos e respirar. Hoje, eu não teria ido direto a Vernazza, teria parado em Corniglia e, quem sabe, pegado trem ou barco para Vernazza.

Do alto em sentido horário: trilha entre mar e vinhedos; Corniglia vista do mar; chegada em Vernazza, Manarola e porto de Manarola; Praia de Monterosso.
A caminhada não exige preparo de atleta, mas é preciso disposição e alguma logística: levar chapéu, protetor, água, lanche. Não tem nada para comprar no caminho. O percurso é bem marcado e, como a região possui diversos roteiros, marcas coloridas indicam a qual ele pertence como acontece nos melhores destinos de trekking do mundo. O mapa que vc ganha ao comprar o “Cinqueterre Card” é claríssimo e ajuda muito.


Quando fui da primeira vez, emendei de um tiro só de Riomaggiore a Monterosso, saindo de manhã cedo e terminando já com o céu escuro. É possível, mas não faria isso de novo. Sentar nas mesinhas à beira mar para comer mariscos e peixes frescos, mergulhas, beber um vinho branco produzido ali mesmo é simplesmente espetacular.

No dia seguinte, preguiçosos, fomos até Riomaggiore para cumprir uma etapa obrigatória: passar pela Via Del’Amore e deixar um cadeado em uma de suas grades.


São 20 minutos a pé, em asfalto polvilhado por jovens casais, grupos de idosos, mochileiros e toda a sorte de gente. Como era justamente 16 de setembro, paramos em uma birosquinha debruçada sobre o mar para abri um espumante e brindar meus 35 anos. Valeu à pena.

Essa última noite dormimos em Monteroso num hotel feito para americanos velhos (sem preconceito, apenas para vcs entenderem o estereótipo do Porto Rocca). O pernoite, em si, foi bola foraça. Mas o programa foi demais: piquenique na marina com vinhos, queijos e amigos especiais. No mar calminho, um jogo de pólo aquático entre Monterosso e Vernazza lembrava um ano da enchente que castigou a região.

Para mergulhar, gostamos muito de Vernazza. Um porto abrigado com vida marinha e tudo (Nedja, minha amiga, pisou em um polvo e tudo!). Manarola também pareceu simpático para um banho. Não descemos até a praia em Corniglia, mas parecia ser bom também. Monterosso tem um estilo esquisito: vc paga para usar o espaço (a menos que tenha a pulseirinha do hotel de velho que ficamos). Sei lá... não gostei. Para aproveitar o dia ‘al mare’, alugamos um caiaque em Monterosso e remamos até Vernazza, com direito a vários tibuns pelo caminho. Era o que eu queria.

Remada...
... e mergulho!
Comer come-se muito bem. Tivemos alguns momentos memoráveis. A começar pela primeira noite em Manarola, com a mesa farta e fresca da Trattoria dal Billy (tem que reservar). Fomos no misto de antipastos sugerido pelo garçom (anchovas salgada e ao limão sensacionais!), emendamos com três pratos de massa para dividir (trofie al pesto, vôngoles e tudo o mais) e fechamos com um peixe simples, lindo, enorme e gostoso com batatas. Vinho branco da região bem fresco na taça e eu não podia pedir nada além disso.

Vinhos locais.
No segundo dia comemos em Manarola também, em um restaurante bem perto do porto chamado Il Porticciolo. Outra experiênica bacana, mas sem grandes emoções (embora o pesto estivesse melhor que o do Billy). A vista, porém, é um tempero à parte.

O ‘gran finale’, sem dúvida, foi o almoço do meu aniversário no mágico Belforte. Um carramanchão de sapê em cima de um penhasco com vista 360 graus de Vernazza. Gaivotas voando. E mais peixes e mariscos recém-saídos do mediterrâneo. A gentileza da equipe de atendimento chegou a ser comovente. Ao entenderem que era meu aniversário, recebi uma singela flor branca. Ao final, dois garçons dos quais não recordo o nome trouxeram uma rodada de lemoncello como cortesia e brindaram conosco (eles com duas taças de prosecco).

Belforte.
Para quem for de carro (nós estávamos motorizados pois íamos da Toscana para Nice), tem que ficar esperto para estacionamento (caro e longe). Não são cidades para visitar de carro, como imaginam. Você não usa ele para literalmente nada. As estradas asfaltadas são muito sinuosas e estreitas. Em alguns momentos chegam a ser assustadoras, como quando fomos de Vernazza para Monterosso. Opte por circular de trem ou barco.

Uma rara vista da janela do trem. A estrada de ferro passa toda por túneis.
Mas é rápido e baratíssimo.
Aliás, uma saída bacana, como nos sugeriu Mattia, no La Torreta, é caminhar de Manarola a Monterosso ou Corniglia num tiro só saindo cedo de manhã e retornar de barco (tem uns ferrys baratíssimos a cada hora ligando todas as cidades) até Riomaggiore. Daí faz-se, em 20min, a Via Del’Amore para retonar ao ponto de partida (Manarola).

Comer: Todas as cidades têm muitos restaurantes e biroscas. Pizzas al taglio, pratos de peixe, massas incríveis. Divirta-se. Os meus favoritos eu listei acima. Se vc conhecer outros e aprovar, deixe um comentário com a dica aqui no post!

Correr: Há diversas trilhas por todo o Parque de Cinqueterre. Nos hotéis e estações de trem, é possível se informar sobre os roteiros. O mapa (gratuito) é ótimo. Há caminhos mais rente ao mar e outros que sobem bastante. Programe-se para não ser pego de noite no meio da trilha. E não deixe de comprar o Cinqueterre Card.

Remar: Aluguel de caiaques eu vi em Vernazza e Monterosso. Com o mar calmo, é Possível se divertir demais. Cuidado com o vendo na hora de calcular a volta. Remar entre Vernazza e Monterosso leva cerca de 1h.

Atenção, atenção: checar antes de ir se as vias de caminhada (sentieri) estão abertas pois, devido a queda de pedras e chuvas, todo o trajeto tradicional estava chiuso recentemente.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Já virou meu carro chefe!

Quem acompanha o blogue sabe que eu não sou lá muito íntima com forno e fogão. Para desgosto da Vovó. Minha bola de segurança sempre foi o rosbife que aprendi a fazer com minha mãe. Deu tão certo que, vejam só, foi o prato que servi no primeiro almoço que ofereci à sogra.

Pois noutro dia tomei uma bronca do Pedro. "Chega de rosbife, né? Trata de aprender outra coisa". Oito anos de filé mignon no forno não é mole, não.

Na época da dieta pobre em iodo, no final do ano passado, tirei da gaveta o hambúrguer do Ferran Adriá, sobre o qual já escrevi no blogue aqui. Com adaptações, claro. Fiz mais duas vezes em menos de um mês e, antes de o Pedro reclamar de novo, tratei de mudar o repertório. E o prato da última sexta-feira já virou carro chefe. Está no clássico dos clássicos. Confesso que a receitinha estava na caixa do polvo defumado (eu jamais ousaria botar brie nessa preparação) e, apenas, dei umas adaptações. Reproduzo, para deleite de vcs, aqui.


Risoto de Polvo Defumado com Brie

Ingredientes:
200g de arroz arbóreo
1 pote de polvo defumado Marítimus (tem na Confraria Carioca e no Empório Gourmet)
1 cebola roxa
2 dentes de alho
100g de brie
Manteiga, sal e pimenta
Parmiggianno Reggiano a gosto

Modo de Fazer:
Numa panela alta, coloque manteiga (aproximadamente duas colheres) e refogue cebola e alho picados. Acrescente metade do vidro de polvo.
Enquanto isso, esquente cerca de um litro de água com sal em uma panela de apoio.
Quando o refogado estiver bom (o cheiro é óooootimo!), ponha o arroz e mexa. Vá colocando água aos poucos, até o risoto ficar na consistência que vc gosta.
Quando estiver no ponto, jogue o restante do polvo defumado e o brie cortado em pedaço e misture.
Deixe de lado a frescura que "frutos do mar não se come com queijo" e sirva quente, com um bom queijo ralado por cima.
E, naturalmente, escolha um bom vinho para acompanhar. No nosso caso, o primeiro foi um Chablis 2010 (joguei fora a garrafa e esqueci de anotar o nome...) e, o segundo, um Bramare Chardonnay 2009.

"Bloco do SUP na Lagoa" e o "Cordão do Caranguejo"

Beleza em dois momentos: Pedra da
Gávea e Corcovado.
Sabe aquela sensação de que o que vc está fazendo é único? Que, simplesmente, só vc escolheu o programa perfeito para um domingo de sol, em que os blocos abduziram todo mundo e levaram para bem longe?

São seis milhões de cariocas. Mas, neste domingo, os espelho d'água da Lagoa era só meu e do Pedro. Tudo bem, havia um ou outro pedalinho, um caiquezinho laranja, o sem-noção da lancha do wakeboard e nós dois. De SUP.

Acordamos com vontade de pedalar até a Lagoa para alugar um Stand Up Padle ali no Corte de Cantagalo. Noutro dia havia passado correndo ali e vi que no quiosque Palaphita Kitsch tinha uma guarderia de pranchas. Sim, elas eram para alugar. O simpático João Paulo, que cuida do espaço Experiências, diz que elas vão passar de quatro para doze logo depois do carnaval. Vai rolar remada com lua cheia, regatinha e tudo o mais.

O Rio é mesmo incrível. Já remei de tudo na Lagoa (e a vista lá de dentro é, sempre, deslumbrante). Mas, de SUP, foi a primeira vez. Mesmo pq até bem pouco tempo eu implicava um bocado com os pranchões. Nada como a maturidade para vc entender que pode (e deve) rever seus conceitos de vez em quando.

Embarque no deck: infra nota 10.
Entramos na água com um ventão de sudoeste que fez com que os 700m entre o Corte e a Curva do Calombo demorassem quase 20min. Mesmo indo rente à maragem. Depois de passar pela garagem de barcos do Botafogo, foi tudo uma beleza. Paramos para brincar com a Go Pro, continuamos até o fim da raia da escolhinha do Botafogo, na altura do Rebouças, e rumamos de volta.

Que Perrengue!! (com P maiúsculo).

O vento tinha dado uma girada e aquele tufão agora soprava contra a nossa cara. Fortíssimo. Remava, remava, remava, e não saída do lugar. Depois de algum sufoco (as derrotas, claro, a gente não conta em detalhes), conseguimos dobrar a Curva do Calombo e curtimos os últimos metros em direção ao deck.

O serviço do Experiências é um barataço. O empreendimento é uma associação entre o Mário 'Maluco', dono do Palaphita Kitsch, o Lorenzo (um velho amigo meu que fabrica barcos a vela da Classe Dingue) e o João Paulo. Todo o material de SUP é da Art in Surf - que, por sinal, adorei experimentar.

Tem local para parar as bikes e deixar as mochilas. Tem direito a ducha de água doce e banheiro na volta. Tem barraquinha de água, gatorade, côco gelados bem do lado (o bar só abre às 16:00 nos finais de semana e às 18:00 nos dias de semana).

No maior clima final de semana em homenagem à Yemanjá, resolvemos buscar um restaurante de frutos do mar para almoçar. No Rio é ou oito, ou oitenta para comer coisas que nadem. Ou vc vai a um restaurante cinco estrelas, ou encara um pé sujo. Adivinhem qual foi a opção?

Como estávamos a um passo de Copacabana, lembramos do tradicional O Caranguejo, na esquina da Xavier da Silveira com Barata Ribeiro. Combinação ideal para o programa perfeito. E não estou exaregando nos adjetivos. Sentamos numa mesinha na calçada, ao lado do balcão do bar que exibia sacos com cascas de siris e caranguejo, acepipes diversos (todos com cara ótima) e os peixes frescos do dia. O vaivém carnavalesco dava o tom. Alguns paravam para tomar um chopinho e pegar um pastel, de pé mesmo.

Sob o toldo e rodeados por gente de toda sorte, demos início aos trabalhos. De entrada uma fantástica casquinha de caranguejo com farofa amarela e pimenta. Depois, um clássico: empadas de camarão da casa (na primeira mordida vc entende o motivo de estamparem, com orgulho, "tradicionais empadas de carmarão" no papel de mesa e na bolacha de chope - que, por sinal, estava geladíssimo). A meia porção de uma super bem feita e saborosa moqueca de camarões graúdos merecia aplausos. Seu Antônio, um cativante senhor espanhol que nos atendeu, ainda fez questão de apresentar a caixa com lindas sobremesas portuguesas. Não resistimos. Toucinho do céu pra dentro.

Nem precisa de legenda!
A volta foi pedalando pela única ciclo faixa do Rio de Janeiro, que liga Copacabana a Botafogo mesmo  em dias úteis. O pedal de hoje, quem diria, foi em sua maioria por ciclovias (Lagoa) ou ciclofaixa. Pouca rua, o que é raro na cidade que se orgulha de ter a "maior malha pedalável do Brasil".

Remar: O Experiências funciona de terça a sexta de 16:00-20:00 e sábados e domingos de 12:00-20:00. Pagamento em dinheiro. Cartão só se estiver no horário de funcionamento do Palaphita. 30min de SUP custam R$ 30 e 1h vale R$ 40. Pacote de 10 horas sai a R$ 350 e deve ser usado em até dois meses (casal pode compartilhar o banco de horas).

Comer: O Caranguejo - Dá vontade de  provar o cardápio inteiro. Depois de se fartar com as entradas, uma meia porção serve, com folga, duas pessoas (o preço médio, no caso, é R$ 72. Honestíssimo). Tente sentar numa mesa atendida pelo Seu Antônio. Ele é o máximo.