Manarola vista do hotel à noite. |
Era ano 2000.
Meu pai havia me dado férias na Itália depois de um GP de Formula 1 em Milão
que ele tinha ido a trabalho (me levando a tiracolo). Mochila nas costas e o
Guia Visual da Folha na mão, peguei um trem sozinha para sassaricar por
Florença, Roma e litoral noroeste da ‘Bota’. Na varanda do albergue em Gênova,
buscava frenética um novo lugar para visitar pois não estava me sentindo nem um
pouco à vontade na cidade que viu zarpar grandes navegadores. Ao meu lado, um
australiano, duas canadenses, uma japonesa que tocava violino na Universidade
de Strasburgo e um texano. No dia seguinte, estávamos todos percorrendo, num
astral que até hoje me arrepia e traz boas lembranças, as cinco cidadezinhas
que colorem os penhascos ao sul de Gênova. Foi minha primeira e mágica
experiência em Cinqueterre.
Ano passado,
enfim, realizei meu desejo de voltar lá. Dessa vez com pessoas que amo para
comemorar meus 35 anos: meus dois
Pedros (o marido e o meu melhor amigo – este com a namorada) e meu irmão com a
namorada.
Uma chuva, em
outubro de 2011, devastou Vernazza e parte das trilhas e estradas. Um esforço
da população reconstruiu parte do comércio e restaurantes (sobretudo em Monterosso
e Vernazza) e não deixou abalar a autoestima dos habitantes, que vivem do
turismo, naturalmente.
Pesquisa dali e
daqui, encontrei um hotelzinho em Manarola cheio de charme: o La Torreta. São
algo como cinco apartamentos que se derramam sobre a encosta. Vista sem igual.
Atendimento acolhedor. É caro. Mas é especial.
A primeira
grande dica para quem for a Cinqueterre: não fique nas cidades “das pontas” –
Riomaggiore e Monterosso. Elas são mais acessíveis (por carro e trem), mais
turísticas (muitos grupos e serviços impessoais), mais “americanizadas”. Ficamos
uma noite em Manarola e abrimos mão da hospedagem em Vernazza na segunda noite
(seria a Affitacamere Tonino Basso. Não fique lá de jeito nenhum!!!!) e
acabamos, infelizmente, parando num hotelzinho na beira da estrada (acolhedor,
mas sem estilo) chamado Due Gemelli – bom, bonito e barato, que não era bem o
que queríamos para a noite do meu aniversário. Mas não deixa de ser uma alternativa econômica e eficiente. E com um ótimo café da manhã!
Dá para fazer um
“bate-volta” e percorrer as cinco cidades a partir de Gênova, Pisa ou La Spezia, sobretudo se for
mesclar os meios de transporte, usando trem, barco e caminhada. Para dormir em
Cinqueterre, opte, na ordem, por pernoitar em Manarola, Corniglia e Vernazza. E
nem pense em ir sem reservar.
Partimos no
primeiro dia para fazer a trilha de Manarola a Vernazza, passando por
Corniglia. Antes de iniciar a caminhada, é preciso comprar o “Cinqueterre
Card”, um passe de um ou dois dias que dá direito a acessar as vias do Parque.
Compre mesmo, pois é checado!
Devido à chuva,
o caminho mais plano entre Manarola e Corniglia estava fechado e a opção foi
subir até a cidade de Volastra para depois descer, o que torna o caminho tão
mais duro quanto deslumbrante.
Início da subida em direção a Volastra. |
Levamos quase
quatro horas para fazer tudo, parando para tomar cerveja, colher figos e uvas
do pé, contemplar o visual, tirar fotos e respirar. Hoje, eu não teria ido
direto a Vernazza, teria parado em Corniglia e, quem sabe, pegado trem ou barco
para Vernazza.
Do alto em sentido horário: trilha entre mar e vinhedos; Corniglia vista do mar; chegada em Vernazza, Manarola e porto de Manarola; Praia de Monterosso. |
A caminhada não
exige preparo de atleta, mas é preciso disposição e alguma logística: levar
chapéu, protetor, água, lanche. Não tem nada para comprar no caminho. O
percurso é bem marcado e, como a região possui diversos roteiros, marcas
coloridas indicam a qual ele pertence como acontece nos melhores destinos de
trekking do mundo. O mapa que vc ganha ao comprar o “Cinqueterre Card” é claríssimo
e ajuda muito.
Quando fui da
primeira vez, emendei de um tiro só de Riomaggiore a Monterosso, saindo de
manhã cedo e terminando já com o céu escuro. É possível, mas não faria isso de
novo. Sentar nas mesinhas à beira mar para comer mariscos e peixes frescos,
mergulhas, beber um vinho branco produzido ali mesmo é simplesmente
espetacular.
No dia seguinte,
preguiçosos, fomos até Riomaggiore para cumprir uma etapa obrigatória: passar
pela Via Del’Amore e deixar um cadeado em uma de suas grades.
São 20 minutos a
pé, em asfalto polvilhado por jovens casais, grupos de idosos, mochileiros e
toda a sorte de gente. Como era justamente 16 de setembro, paramos em uma
birosquinha debruçada sobre o mar para abri um espumante e brindar meus 35
anos. Valeu à pena.
Essa última
noite dormimos em Monteroso num hotel feito para americanos velhos (sem
preconceito, apenas para vcs entenderem o estereótipo do Porto Rocca). O
pernoite, em si, foi bola foraça. Mas o programa foi demais: piquenique na
marina com vinhos, queijos e amigos especiais. No mar calminho, um jogo de pólo
aquático entre Monterosso e Vernazza lembrava um ano da enchente que castigou a
região.
Para mergulhar,
gostamos muito de Vernazza. Um porto abrigado com vida marinha e tudo (Nedja,
minha amiga, pisou em um polvo e tudo!). Manarola também pareceu simpático para
um banho. Não descemos até a praia em Corniglia, mas parecia ser bom também.
Monterosso tem um estilo esquisito: vc paga para usar o espaço (a menos que
tenha a pulseirinha do hotel de velho que ficamos). Sei lá... não gostei. Para
aproveitar o dia ‘al mare’, alugamos um caiaque em Monterosso e remamos até
Vernazza, com direito a vários tibuns pelo caminho. Era o que eu queria.
Remada... |
... e mergulho! |
Comer come-se
muito bem. Tivemos alguns momentos memoráveis. A começar pela primeira noite em
Manarola, com a mesa farta e fresca da Trattoria dal Billy (tem que reservar).
Fomos no misto de antipastos sugerido pelo garçom (anchovas salgada e ao limão sensacionais!), emendamos com três pratos de
massa para dividir (trofie al pesto, vôngoles e tudo o mais) e fechamos com um peixe
simples, lindo, enorme e gostoso com batatas. Vinho branco da região bem fresco
na taça e eu não podia pedir nada além disso.
Vinhos locais. |
No segundo dia
comemos em Manarola também, em um restaurante bem perto do porto chamado Il Porticciolo. Outra experiênica bacana, mas sem grandes emoções (embora o pesto
estivesse melhor que o do Billy). A vista, porém, é um tempero à parte.
O ‘gran finale’,
sem dúvida, foi o almoço do meu aniversário no mágico Belforte. Um
carramanchão de sapê em cima de um penhasco com vista 360 graus de Vernazza.
Gaivotas voando. E mais peixes e mariscos recém-saídos do mediterrâneo. A
gentileza da equipe de atendimento chegou a ser comovente. Ao entenderem que
era meu aniversário, recebi uma singela flor branca. Ao final, dois garçons dos
quais não recordo o nome trouxeram uma rodada de lemoncello como cortesia e
brindaram conosco (eles com duas taças de prosecco).
Belforte. |
Para quem for de
carro (nós estávamos motorizados pois íamos da Toscana para Nice), tem que
ficar esperto para estacionamento (caro e longe). Não são cidades para visitar
de carro, como imaginam. Você não usa ele para literalmente nada. As estradas
asfaltadas são muito sinuosas e estreitas. Em alguns momentos chegam a ser
assustadoras, como quando fomos de Vernazza para Monterosso. Opte por circular
de trem ou barco.
Uma rara vista da janela do trem. A estrada de ferro passa toda por túneis. Mas é rápido e baratíssimo. |
Aliás, uma saída
bacana, como nos sugeriu Mattia, no La Torreta, é caminhar de Manarola a
Monterosso ou Corniglia num tiro só saindo cedo de manhã e retornar de barco
(tem uns ferrys baratíssimos a cada hora ligando todas as cidades) até
Riomaggiore. Daí faz-se, em 20min, a Via Del’Amore para retonar ao ponto de
partida (Manarola).
Comer: Todas as
cidades têm muitos restaurantes e biroscas. Pizzas al taglio, pratos de peixe,
massas incríveis. Divirta-se. Os meus favoritos eu listei acima. Se vc conhecer
outros e aprovar, deixe um comentário com a dica aqui no post!
Correr: Há
diversas trilhas por todo o Parque de Cinqueterre. Nos hotéis e estações de
trem, é possível se informar sobre os roteiros. O mapa (gratuito) é ótimo. Há
caminhos mais rente ao mar e outros que sobem bastante. Programe-se para não
ser pego de noite no meio da trilha. E não deixe de comprar o Cinqueterre Card.
Remar: Aluguel
de caiaques eu vi em Vernazza e Monterosso. Com o mar calmo, é Possível se
divertir demais. Cuidado com o vendo na hora de calcular a volta. Remar entre
Vernazza e Monterosso leva cerca de 1h.
Atenção, atenção:
checar antes de ir se as vias de caminhada (sentieri) estão abertas pois,
devido a queda de pedras e chuvas, todo o trajeto tradicional estava chiuso
recentemente.
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