Claro que é impressionante conhecer a imensidão dos vinhedos da Norton, de onde saem 30 milhões de garrafas por ano, e sua forma elegante e profissional de receber os visitantes. A casa que foi do inglês Norton hoje pertence aos austríacos da Swarovski, a mesma dinastia que faz reluzir os cristais mais cobiçados do mundo.
Norton - Boas vindas com estilo |
Ainda assim as vinícolas em Mendoza são, necessariamente, uma
coisa familiar. Com famílias mais ou menos ricas, mais ou menos conhecidas,
maiores ou menores. A Norton foi a única gigante no nosso intenso roteiro de
três dias e centenas de taças de vinho em agosto de 2014 (sim, estou atrasadinha com o blogue...). A começar pelo local onde nos
hospedamos (Lujan de Cuyo Bed & Breakfast, um achado no melhor ponto para
se percorrer as vinícolas da região, comandado pela encantadora família de
Ignácio e seus pais), entramos na casa e na alma de pequenos produtores
familiares que oferecerem uma percepção sincera da cultura e, pq não, terroir local.
Começamos a viagem pela bodega Bonfanti. Estela, a matriarca, foi
quem abriu a porta logo nos convidando para subir. Do espaço envidraçado
avistamos os vinhedos ainda pelados de inverno, salpicados por oliveiras. “Onde
há vinhedo antigo sempre tem um pé de oliva”, explicou ela, falando do negócio
com o marido e os filhos, agrônomos e enólogos, e das cerca de 50 mil garrafas
que saem dali todos os anos. “Na época da colheita contatamos mais umas 20
pessoas para nos ajudar”, acrescenta.
Provamos o Malbec, o espumante e seguimos para a Norton para,
então, chegar à Dolium.
A pequena casa ainda cheirava à comida recém servida quando
Ricardo abriu um sorriso largo para nos receber. Orientou prontamente suas
enólogas, que desciam para a área dos barris. “Tirem mais uma taça por favor.
Temos visita”.
Logo Laura nos entregou um vinho Malbec Grand Reserva 2012, que
estavam testando para ver se poderiam engarrafar alguns exemplares. “Precisamos
de dinheiro para avançar com a produção desse ano”. O lindo vinho já nos
sinalizou o que estava por vir.
Enquanto ouvíamos que a Dolium foi, até 2005, produtora dos
cobiçados vinhos da Cobos (como por exemplo o Bramare, se vc não junta o nome à
pessoa), iniciamos a degustação. Dos mais jovens aos envelhecidos em barrica de
carvalho, com direito a degustação horizontal (um Syrah e um Malbec do mesmo
ano e mesmo vinhedo, dois Malbecs do mesmo ano e vinhedos distintos...) e
vertical (Malbecs de mesma qualidade das safras de 2008 a 2012). Uma aula
prática da arte de fazer, beber e compartilhar vinhos.
A essa altura, já tínhamos fome. Foi quando Ricardo nos ofereceu almoço, totalmente fora do script. A massa com queijo e manteiga de sálvia colhida no jardim estava simplesmente perfeita.
Dolium |
Irresistível passar pela (cafoníssima) pirâmide sede dos clássicos da família Catena. Mesmo
sem reserva, chegamos a tempo de participar de uma bem feita degustação com a
simpática Cecília, com direito a tango à capela no final, e um grupo de
animados brasileiros.
A noite nos reservava mais uma
surpresa especial: o jantar com a Família Antonietti. Andreas, Norma e
Betiana nos esperavam no portão de casa, numa ruazinha de terra em San Martin,
a 40min pela autostrada a partir de Lujan de Cuyjo. O pai, enólogo aposentado,
a filha formada em turismo. A casa, uma propriedade rural que pertence à
família há algumas gerações, foi reformada e conta com um tonéis e cava que, a
partir da próxima colheita, farão os vinhos que levam o rótulo Família
Antonietti (por sinal, lindamente desenhados por uma artista de Mendoza).
Conhecemos cada cômodo da casa, como amigos que são recebidos de
braços abertos pela primeira vez. Enquanto provávamos as adoráveis bruschettas
caseiras com o xodó da Família, um gostoso espumante, íamos conversando sobre
vinhos e vida. Estávamos à vontade e, lá pelas tantas, fomos à mesa. A entrada
foi uma torta de espinafre com salada fresquíssima; depois um ensopado de carne
com batata, que ficou marinando de véspera sob os cuidados de Andreas. Acompanhamos
com um Bonarda, outra aposta de uva assinatura Argentina, para fazer frente ao
onipresente Malbec. E, claro, encerramos com flan com dulce de leche, feito com
ovos da granja da casa.
Mendoza não é só vinho. O sábado começou com uma deslumbrante
viagem ao Parque Aconcágua. Em cerca de 180km, cruzamos diversas vezes o
gigante Rio Mendoza, seco de dar dó. Vimos a Ponte Inca e os pitorescos
vilarejos encravados na montanha. Teve neve, teve arco-íris, teve frio, teve
trekking para tentar avistar o cume das Américas. E teve sanduíche de milaneza
em Uspallata, pq ninguém é de ferro!
Com a alma repleta com a experiência diante do Aconcágua, fomos ao restaurante 1884 do badalado Francis Malman. A casa foi uma antiga bodega, reformada após incêndio e que ainda produz algumas carragas. Provamos um Malbec 2007 estupendo, melhor da viagem talvez. Acompanhado de burrata e rúcula de entrada (pra mim), seguido de cordeiro com batatas, rúcula e mostarda (espetacular!). Não me lembro o que o Pedro pediu, mas estava muito bom também.
Mas ainda tínhamos fígado para o último compromisso vinícola da
viagem: a Viña Cobos, mais esperada de todas por nós. Provar os diferentes
Bramare e conhecer a história da família foi o final perfeito para essa imersão
na alma de Mendoza, antes de seguir por estradinhas internas até a pitoresca Chacras de Cória para o almoço de despedida.
E #ficadica: para vôos da Argentina ao Brasil, pode-se levar até
12 litros de bebida alcoólica respeitando-se o limite de peso despachado de
cada companhia. E detalhe: é permitido carregar duas garrafas na bagagem de
mão.
Comer:
Bodegas:
Dormir:
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