domingo, 22 de fevereiro de 2015

Como eu gosto de Noronha


Nunca esqueço disso. A caminho do (extinto) Restaurante Ecologikus, em 2012,  a senhora se espantou ao meu lado na van: “Quinta visita?! Pra que você vem tanto aqui? O que tem pra fazer? Três dias está bom, não?”.

Não, não está bom três dias em Fernando de Noronha. Devo ter passado, ao todo, uns 40 dias na Ilha. e por isso os amigos sempre pedem dicas quando vão pra lá. Então tá aqui.

Começo dizendo que nenhum dia em Noronha até hoje foi igual ao outro. Pelo contrário, a emoção daquele distante 2004, quando entrei no mar da Praia da Conceição pela primeira vez, foi a mesma do mergulho de despedida em 2014, depois de correr (e vencer!!!) a Meia Maratona de Noronha. Embora (a cada dia seja mais visível a olho nú) a vida real para as pessoas da ilha não seja exatamente turquesa com golfinhos pulando como a gente vê nos anúncios de turismo.

Vai encarar? Isso pq não dá pra sentir o cheirinho...
As ruas menos turísticas são abandonadas (se tiver coragem, passa pela ladeira que leva ao cemitério...), os pescadores têm dificuldade de conseguir liberação para seu trabalho e a especulação está tomando conta do terreno. Várias vezes vc vai se perguntar o que fazem com aquele dinheirão arrecadado com a taxa de cada um dos quase trezentos turistas diários que pousam no aeroporto.

Ainda assim, Noronha é Noronha. E não por causa das tartarugas ou do pôr do sol, mas sim de gente como Eron (que nos presenteou com uma cavalinha fresca no pier do Porto de Santo Antonio); como Eliu (de dia guia, de noite taxista) e suas tiradas de duplo sentido com cunho sócio-político; como Moniquinha, Mary, Andrea, Natassia e tantos outros que dão alma ao belo.

E a cavalinha virou ceviche e posta na brasa na minha "casa" em Noronha.
Minha casa em Noronha é a casa do Jurrewerson e da Joana, a acolhedora e simples pousada Ondas do Mar. Fica convenientemente próxima à estrada (mas não grudada nela), na Floresta Nova. Cinco quartos com ar condicionado, frigobar, super café da manhã e bom preço, além do carinho e cuidado iningualáveis da Andreia. Agora surgiu até um Beijupirá ali perto, que delícia! A Joana é filha da famosa Tia Zete, dona da concorrida pousada de mesmo nome a poucos metros dali – e quem sempre me recebe de última hora com um sorriso no rosto e a frase de mãe “menina, mudou o voo de novo??!!” quando resolvo, de última hora, trocar a passagem de volta para ficar mais um dia naquele universo paralelo.

Nunca fiz Ilha Tour (o incontornável passeio de bugre de um dia, passando pelos principais pontos de lá), mas acho recomendável para quem tem pouco tempo. Além de dar uma boa visão geral do terreno e permitir voltar onde vc mais gostar nos dias seguintes.

Tem também onipresentes batismos de mergulho da Noronha Divers e da Atlantis. Legal? Claro que é. Mas, de verdade, você não vai ver nada muito diferente do que você pode ver batendo perna de snorkel na Baía do Sancho (incluindo tubarões!), na Baía dos Porcos ou num rolé entre o Porto e a praia do Meio. Eu sempre fico com essas outras opções! E mais, já levei bicicleta duas vezes pra lá (tem post no blogue sobre Noronha de bike aqui)e, em dezembro último, botei um caiaque inflável na mala que foi diversão total!!!!

De caiaque diante do Morro do Pico e do Dois Irmãos.
Impossível não fazer passeios de barco até o “mapa do Brasil” na ponta da Sapata. Vc vai ver golfinhos saltando e tostar no sol. Os passeios que eu mais curti fazer foi no Barco da Marlene, que não sei se ainda existe, e o Trovão dos Mares, com direito a almoço ancorado na baía do Sancho.

O Parque Nacional Marinho passou por uma ordenação recente. Custa mais ao visitante (além da taxa de preservação diária, é preciso comprar a entrada do Parque – que inclui as principais praias do arquipélago, então é obrigatório), mas oferece mais serviço.

Noronha anda “evoluindo” meio assustadoramente, é verdade, mas (ainda bem) ainda não se transformou na bombação descontrolada da uma vez paradisíaca Porto de Galinhas. Há mais lojas, restaurante self-service, carros fechados (não só bugres como antes) e operadoras de turismo. Mas ainda assim é preciso de doses de auto suficiência em termos de itens “básicos” para curtir os dias por lá como: guarda-sol, equipamento de mergulho, lanche... Duas praias oferecem boa opção para comer. A Cacimba, com a Barraca das (sorridentes) Gêmeas e o peixe na folha de bananeira e mandioca cozida de primeira; e o bar Duda Rei, point da praia da Conceição com a perfeita combinação de ceviches e caipirinhas!

Mas Noronha não é só mar. Tem pesca (autorizada) na área da APA; tem a cavalgada ecológica que te leva a ver a praia do Atalaia por outro ângulo; tem também as trilhas maravilhosas como a Capim Açu (longa, relativamente dura... mas deslumbrante e passa pelo pouco trecho de Mata Atlântica nativa da ilha, o que restou do desmatamento da época do presídio) e a do Morro do Pico (suba até lá para ver o pôr do sol). O guia que mais curto é o Rinaldo, que trabalha para o ICM-Bio agora e não faz passeios regularmente. De todo modo, quando vc for à palestra do TAMAR (não adianta dizer que não vai pq vc vai inevitavelmente acabar indo lá ouvir o papo sobre tartarugas, tubarões e golfinhos), procure o estande da Associação de Guias e marque com eles sua trilha.

Pôr do Sol, aliás, é um espetáculo à parte. A cada dia, veja de um ponto diferente: do Pico, do Porto, do Boldró, do Forte dos Remédios... um mais espetacular do que o outro. Descubra o seu preferido. O meu é no mirante entre a Cacimba e a Baía dos Porcos.

Pôr do Sol visto do Bar do Meio - que era meio boteco e virou "balada". Uma dessas tristes mudanças da ilha.
Quando chega a noite, Noronha dorme. Tem até o forró do Cachorro, tem ainda o reggae e o sambinha da Pizzaria. Tem os (bons) restaurantes como o do Zé Maria (peça à la carte), o Cacimba Bistrô e o Beijupirá. Mas não imagine-se na Rua das Pedras.

Se estiver com amigos, vale alugar um bugre, embora eu só tenha feito isso uma vez. Noronha é pequena e dá para percorrer de ônibus (são dois micro-ônibus que, aleluia, foram modernizados, com ponto final no Porto e no Sueste, passando pelos 7,5km da BR 363), a pé ou de bike. O ônibus não deixa na beira de algumas das praias mais populares, como Cacimba e Sancho. É preciso caminhar. Ou ligar pra Nortaxi e pedir um taxi, sempre com preço salgado e tabelado.

As irmãs Mary e Moniquinha têm um lindo ateliê ao lado da praça do Flamboyant e, sem sombra de dúvida, são a mais autêntica opção para comprar presentes e artesanatos da Ilha.

Sim, eu sei que vc quer ir ao Museu do Tubarão...

10 dicas básicas para curtir Noronha:
1. Noronha é o melhor destino do Brasil para viajar com milhas, pois as passagens são muito caras. Programe-se com antecedência, seja para comprar ou emitir pelos programas de fidelidade e garantir disponibilidade e boas tarifas.
2. Pague a taxa de preservação pela internet antes de chegar na Ilha. Vai economizar tempo no desembarque. O ticket de entrada para o Parque também pode ser comprado online e é mais barato do que nos quiosques na Ilha. 
3. Fique pelo menos 5 dias na Ilha para aproveitar tudo com calma. Dependendo do seu estilo, pesquise a melhor temporada. Dezembro começa a entrar o swell e o mar de dentro fica mais mexido. A época de mar mais calmo é setembro.
4. A maioria das pousadas oferece pegam e levam no aeroporto. Não há engarrafamento lá. Ou seja, no dia e ir embora, basta sair uma hora antes do voo ou quando vc ouvir o avião pousando.
5. Não há sombra nas praias. Leve seu próprio guarda sol mas lembre-se de que quase sempre vai ter que caminhar com ele.
6. Use e abuse do protetor solar (menos na praia do Atalaia). Não esqueça de passar creme na panturrilha e na bundinha, pois é certo de que vai passar os dias fazendo snorkel. Mergulhe de camisa para mais proteção.
7. Leve lanche e uma garrafa de água para o dia na praia. Muitas vezes não será possível comprar.
8. Normalmente cartões de crédito e débito são aceitos nos principais estabelecimentos. Mas não há caixas eletrônicos de todos os bancos na Ilha (e, em temporada, o dinheiro para retirada pode acabar). Leve dinheiro vivo e jamais converta “1 Noronho” para o real. Da última vez, 1 Noronho valia R$ 3. Na hora de pagar a primeira conta vc vai entender o que estou querendo dizer.
9. A Ilha tem problema de água, que é tratada e dessalinizada. Economize. Além disso, cuide do seu lixo. 

10. Lembre-se: as pessoas de Noronha são mais especiais e encantadoras do que a natureza em Noronha. Descubra a sua Noronha. E seja feliz!



Um comentário:

  1. Seus textos estão sendo incrivelmente relevantes no meu plano de viagem de bike para Noronha! Muuuuito obrigado!

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