Praticamente
nasci em Paraty Mirim. Freqüento aquela prainha desde os três meses de idade e
não há lugar no mundo onde me sinta melhor. Tô ficando chata de tanto repetir isso, eu sei.
A Rio-Santos, porém, torna as
coisas cada vez mais difíceis. Se, antigamente, fazia com meu pai os 245km em
pouco menos de 3h, hoje com quebra-mola, radar, favelões à beira da pista e
engarrafamentos infinitos, conseguir fazer abaixo de 5h é uma vitória.
Ainda assim
temos conseguido cumprir a meta de estar por lá pelo menos uma vez por mês. O
que nos deixa cada vez mais perto da rotina caiçara. Com chuva, com sol, sozinhos,
acompanhados por amigos, em final de semana ou feriadões. Nunca é igual estar
em Paraty Mirim. Mesmo que, felizmente, Paraty não mude. (o tempo lá anda em círculos, costuma dizer um amigo meu).
Noutro dia pegamos
o caiaque e tiramos mais um item da nossa “to do list”: fomos até a ponte do
Rio dos Meros, na Rio-Santos, e descemos por cerca de 2km até o fundo da Baía
da Cotia, costeando por mais 5km até chegar na praia de Paraty Mirim. Era um
dia especial. Por coincidência que só a assiduidade permite, era o final de
semana de celebração de NS das Dores, a padroeira da capela na praia. A mais
antiga igrejinha de Paraty Mirim estava toda enfeitada. A comunidade envolvida
em tudo: na decoração, no cachorro-quente, na venda de cerveja e na missa com
participação do coral da comunidade vizinha.
Pena que Paraty
Mirim seja tão abandonada pelo poder público. E não falo “só” da estrada
esburacada à mercê da enchente do Rio
(quando vc vai uma vez por mês é folclórico, quando vc mora lá e precisa
estudar, ir ao médico ou trabalhar e o ônibus não vem, são outros 500). Nesse
que é o final de semana mais importante para os 700 habitantes de Paraty Mirim,
não havia luz há três dias. Acabou o gelo, estragaram-se os peixes, a cerveja
encalhou. A missa na capela foi sem luz. Não teve o baile. Tudo pq caiu um galho
na fiação ao lado da estrada e ninguém se deu ao trabalho de reparar desde
quinta-feira.
Numa outra ida
voltamos a pôr o caiaque na água pra mais dois roles que sempre quisemos fazer:
dar a volta remando na Ilha do Algodão (passando entre a ponta e a ilhota dos
Meros, com mar batido e diversão garantida) com direito a pitstop para caipirinha no Restaurante do Hiltinho; e sair cedinho
para percorrer os 15km que separam, pela água, Paraty-Mirim e Paraty. Sempre em
mar abrigado e com várias praias onde é possível parar, já considero esse um
passeio obrigatório.
Volta na Ilha do Algodão e hidratação no Restaurante do Hiltinho! |
Foi no domingo
desse final de semana que Pedro recebe um chamado ainda durante o café da
manhã: “Vai ter jogo amistoso contra Paraty no campão e o Rinaldo quer que vc
jogue”. O campo de grama no fim da estrada junto à praia é um dos orgulhos
locais. Tem até refletor. É a casa do Paraty Mirim FC, com uniforme e
patrocínio, representante local no Campeonato Rural.
Os banquinhos de
madeira do outro lado da estrada servem de arquibancada. Naquele domingo quase
meio dia, havia meninas paquerando e a velha guarda “cornetando” o jogo. Com um
copão de caipirinha (cachaça do Seu Raimundo!), fiquei de olho no Pedro. Dois
tempos de 40 minutos e o corre-corre do “amistoso à vera” prometiam um estrago!
Já estava 3 a 0 para o time da casa quando o velho Joãozinho, um dos mais antigos caiçaras de Paraty Mirim,
grita da torcida: “Vcs pegaram essa estrada pra vir até aqui e não fazer nem o
gol de honra! Assim não dá!”.
Apesar da
estrada (ou por causa dela), Paraty Mirim preserva as coisas boas da vida.
Remar:
Rio dos Meros –
Paraty Mirim: Nível leve. Atenção à maré para não ter de empurrar o barco no mangue, e também aos mosquitos. No percurso até Paraty Mirim, são muitas as praias para parar e descansar.
Volta à Ilha do
Algodão: Nível moderado-forte. Além de relativamente longa e com pouco local para desembarque (face norte), a passagem pelo canal da ilhota dos Meros pode estar bem mexido devido ao vento.
Paraty Mirim –
Paraty: Nível moderado. Se escolher corretamente o momento de partir (sem vento, por exemplo), é um lindo passeio turístico. Apesar de longo, o percurso oferece muitos locais para descanso, lazer e alimentação. Cuidado com o grande fluxo de barcos a motor!
Festejar:
N S Das Dores –
Padroeira de Paraty Mirim
Comer/Beber:
Saideira só pra vcs: um close na cachacinha do alambique do Seu Raimundo!!!
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